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Atualizado em 15 DE outubro DE 2011 ás 00:51

Reinaldo Dantas Sampaio

Nesta entrevista especial à jornalista Liliana Peixinho, o vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia - Fieb, expõe a política da instituição para o enfrentamento dos desafios frente à sustentabilidade. Gestão, ações socioambientais, construção de parcerias para processos ecoeficientes na produção industrial, inovação e tecnologia são alguns dos temas abordados

Por Liliana Peixinho
lilianapeixinho@gmail.com

Ciência e Cultura - Que projetos, ações, programas a Fieb tem hoje, em sua agenda, para de fato, na prática, in loco, verificarmos mudanças de comportamentos em relação aos modos de produção com uso de tecnologias limpas, harmoniosas, preventivas, de preservação da grande matriz Recursos Naturais?

Reinaldo Sampaio –  O Sistema Fieb, através, principalmente, das unidades do Senai apóia os processos de inovação de processos e produtos, disponibilizando à indústria da Bahia, inteligência e laboratórios, alguns de elevada complexidade tecnológica. Nos tempos presentes, grande parte desses processos inovadores está orientada para a redução do uso de insumos, em especial água e energia; tratamento de resíduos e efluentes, utilização de novos materiais oriundos de fontes renováveis, reciclagem, dentre outros. Ou seja, processos ecoeficientes. Sugiro uma visita ao Senai-Cimatec e ao Senai-Cetind, onde você poderá ouvir dos nossos pesquisadores detalhes e resultados. Posso assegurar que muitas das indústrias com as quais cooperamos poderão apresentar dados que comprovem essas conquistas.

Também, através do IEL – Instituto Euvaldo Lodi, atuamos no âmbito da pequena e média indústria, promovendo programas de educação e conscientização da gestão ecoeficiente, aliados, tais programas, a processo de diagnóstico presencial em cada empresa para identificar possibilidades de inovação e apoio no seu desenvolvimento. Também apoiamos na elaboração de projetos de pesquisa e desenvolvimento na captação de recursos destinados a P.D e Inovação, além das ações objetivando a integração universidade-empresa vital para tornar a Bahia geradora de patentes em escala superior ä de teses científicas sem aplicação prática em benefício da sociedade.

Ciência e Cultura - A Bahia, o  Nordeste, de forma geral, apresentam um quadro de demandas reprimidas no uso de tecnologias eficientes, inteligentes, modernas, preventivas, linkadas com as novas necessidades de adaptação às mudanças que a vida estar a exigir diante dos “estragos” feito pelo Homem/Indústria. O que a Fieb observa de novo, de inédito, inovador, revolucionário, nesse cenário?

Reinaldo Sampaio – A velocidade da superação de processos produtivos industriais menos eficientes por outros mais eficientes, está relacionada ao nível técnico-científico da sociedade subjacente. Sociedades inovadoras criam empresas inovadoras; outros fatores, de natureza macroeconômica, também são determinantes para induzir os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica; ambientes econômicos dotados de condições como, conhecimento tecnológico e infraestrutura, que favorecem a competitividade sistêmica, são determinantes para estimular a demanda por investimentos, em especial, aqueles voltados para a inovação. O que há de novo nesse sentido parece ser a gradativa consolidação de uma conscientização dos agentes econômicos, do governo e da própria sociedade que a realidade econômica mundial, se apresenta como uma oportunidade histórica para avançarmos para um elevado patamar técnico-científico da nossa sociedade e da nossa indústria, objetivando alcançar um estágio de desenvolvimento que podemos defini-lo como de “elasticidade” competitiva sistêmica.


“Quando a sociedade torna-se esclarecida, culta, consolida também seu sentido de cidadania e estabelece novos valores em todos os âmbitos das relações sociais”.

Por outro lado, processos inovadores revolucionários, em geral, ocorrem em ambientes industriais de maior adensamento de cadeias produtivas; a Bahia, sabemos, tem uma matriz industrial com elevada concentração setorial e empresarial; dessa forma, as inovações de grande envergadura ocorrem em um universo dessas poucas empresas que respondem, em conjunto, por mais de 75% do Valor da Transformação Industrial do nosso Estado. Por fim, devemos incorporar em nossas expectativas e conceito de inovação, a observação feita pelo Prêmio Nobel de Economia, Robert Solow: “Inovação, pode ser tanto uma nova tecnologia revolucionária, quanto uma rotatória do trânsito, desde que ambas elevem a eficiência e a produtividade da sociedade”. Pensar dessa forma, permitirá incluir no conceito de empresas inovadoras, aquelas de micro, pequeno e até médio portes que, muitas vezes, tornam-se mais eficientes e competitivas através de ações que revolucionam apenas seu próprio ambiente operacional ou de gestão.

Ciência e Cultura - Especialistas em Responsabilidade socioempresarial viajam o mundo e o Brasil para falar a empresários sobre as novas necessidades de construção de mercados verdes, com Cadeias Produtivas Sustentáveis, Harmoniosas, de ponta a ponta, onde todo e qualquer processo produtivo seja pautado em valores como: comércio justo, preservação das matrizes, não exploração de mão de obra, e satisfação dos clientes/trabalhadores/produtores, alimentando o paradigma do Consumo Consciente. É possível conciliar lucro, preservação e crescimento sem questionar modelos antigos/cartesianos de políticas econômicas cuja lógica tem favorecido, ao longo da história pós revolução industrial, a concentração de renda, o desemprego, a exclusão e uso de tecnologias com  impactos socioambientais de larga escala?

Reinaldo Sampaio – Essa pergunta eu diria que é fascinante, porque propõe questionamentos cujo entendimento, ainda que polêmico e inevitavelmente sujeito a profundas controvérsias, transita pela economia política (a compreensão das forças que regem uma ordem econômica historicamente determinada em que vivemos), pela  filosofia (a questão da ética, enquanto práxis humana transformadora; reflexão crítica da conduta humana) pela sociologia (a nova sociedade hiperconsumista que, aparentemente, renunciou às tradições e às utopias, privilegiando o presente,o ´hic et nunc´); abordagens que considero essenciais para responder questões dessa natureza. Mas, tratando-se do Sistema Fieb, sua missão é contribuir para o aumento da produtividade e da competitividade das empresas e fazemos isso, primeiro, capacitando as pessoas, desde o ensino básico, passando pela capacitação técnica e chegando até a formação superior no nível de doutorado.

“Os segmentos industriais que exigem maior complexidade e conhecimento, para os quais estamos preparados ou fase de preparação, são: Automobilística, indústria naval, energias renováveis, em especial, eólica, tecnologia da informação, química e petroquímica, mineração e logística”.

Acreditamos que são as pessoas, educadas, capacitadas, proativas e com capacidade de comunicação e elevado conteúdo humanístico que são capazes de tornar as empresas inovadoras e competitivas; além disso, instalamos centros tecnológicos estruturados para atender os requisitos de pesquisa e desenvolvimento de produtos e de processos do interesse de indústrias de qualquer nível de complexidade tecnológica. Quando a sociedade torna-se esclarecida, culta, consolida também seu sentido de cidadania e estabelece novos valores em todos os âmbitos das relações sociais propriamente ditas, bem como, no âmbito das relações sociais de produção, Alcançando tanto as relações de trabalho, quanto àquelas relacionadas com os cuidados ambientais. Vale ressaltar, e esse há um fato relevante que o ciclo de industrialização iniciado na Bahia há cerca de trinta anos e ainda em desenvolvimento, não apresenta registro de descaso com os cuidados ambientais; ao contrário, muitas indústrias importantes instaladas em nosso Estado têm sido premiadas até internacionalmente, como exemplo de empresas sócio-ambientalmente responsáveis.

Ciência e Cultura -  O Brasil, em destaque o Nordeste/ Bahia carece de mão de obra especializada, em diversas áreas. A Fieb, e seus sistemas, IEL, Sesi, Senai, Sindicatos, Conselhos e outras representações, oferece o que  na Bahia, não só em Salvador, mas, principalmente no interior, em formação, capacitação, especialização?

Reinaldo Sampaio – Como falei anteriormente, o Sistema Fieb atua em muitas frentes de apoio à formação/capacitação de pessoas. O Sesi, oferecendo educação básica gratuita integrada e continuada com a formação técnica do Senai, além de atuar na prevenção de questões relacionadas à saúde e segurança do trabalhador e de oferecer e patrocinar atividades esportivas e de recreação para os industriários.O Senai oferece capacitação técnica e de nível superior, inclusive é uma das poucas entidades brasileiras, autorizadas a fornecer certificação de pessoas em diversas competências técnicas.

O IEL, no tocante à questão de formação profissional, atua promovendo formas de cooperação e de integração Universidade/Empresa, além de gerir um reconhecido Programa de Estágio para estudantes universitários, não somente fazendo cumprir o quanto determinado na Lei de Estágio, mas, incorporando métodos adicionais de acompanhamento e avaliação que reforçam a interação construtiva do conhecimento acadêmico com o aprendizado prático no ambiente empresarial. Essa atuação ocorre proporcionalmente em função da base industrial territorial, tanto a existente, como em potencial de desenvolvimento; essa compreensão inspira o Planejamento em curso, orientado para ampliar a presença do sistema Fieb em diversas regiões do Estado, estando previsto a construção ou ampliação de estruturas físicas nos Municípios de Barreiras, Luis Eduardo Magalhães, Ilhéus/Itabuna, Feira de Santana, dentre outros.

Ciência e Cultura -  Quais as áreas prioritárias de investimento industrial? E que resultados o Sistema FIEB apresentou? Fale sobre projetos para os próximos, digamos, 50 anos, eles existem?

Reinaldo Sampaio – O Sistema Fieb apoia todo e qualquer tipo de indústria não importando seu porte ou ramo de atividade; evidentemente, observando tendências e/ou perspectivas de novos segmentos de atividade industrial no estado, procura antecipar-se e capacitar-se para apoiar, tanto em formação profissional quanto em desenvolvimento tecnológico. Poderia dizer que os segmentos industriais que exigem maior complexidade e conhecimento, para os quais estamos preparados ou fase de preparação, são: automobilística, indústria naval, energias renováveis, em especial, eólica, tecnologia da informação, química e petroquímica, mineração e logística.

Ciência e Cultura -  Política em longo prazo é estratégia empresarial na Fieb ou ela tenta acompanhar a pressa de empresários que querem, e precisam, cobrir/ter retorno rápido, dos investimentos realizados?

Reinaldo Sampaio – O Sistema Fieb tem mais de 60 anos, em permanente aprimoramento no seu mister, que é, o de contribuir para o aumento da competitividade da indústria da Bahia, atuar na defesa de interesse da atividade industrial, de modo  que seja  reconhecido como uma entidade que oferece relevante contribuição para o desenvolvimento do nosso estado. Quanto ao retorno dos investimentos por meio dos lucros da atividade, esse é um pressuposto legítimo e necessário, considerando que toda atividade empresarial que não produz lucros tende à falência, causando prejuízos não somente aos acionistas, más aos trabalhadores e suas famílias e à própria sociedade. Diria mesmo, que o capital industrial tem, por natureza e característica, uma visão de longo prazo; ao contrário do capital financeiro especulativo; este sim é volátil e imediatista.

Ciência e Cultura -  Qual a relação, que tipo de parceria existe entre a FIEB e os programas de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo?

Reinaldo Sampaio – A Fieb mantém permanente diálogo e realiza formas diversas de cooperação com as atividades e programas da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de apoiar as indústrias na captação de recursos públicos destinados ao desenvolvimento tecnológico, operados pela Fapesb, bem como, pela Finep, que é federal. Também estamos trabalhando em conjunto para definirmos um modelo de cooperação no âmbito do Parque Tecnológico do Estado da Bahia.

Ciência e Cultura -  O empresariado baiano está se preparando para ter compromisso com o que diz, propaga, divulga no marketing de suas empresas com relação a sustentabilidade? A Fieb  acha que  há espaço para denunciar e mostrar a diferença entre o que se diz, que faz, e o que realmente está, ou não, sendo feito?

Reinaldo Sampaio – O Sistema Fieb não é uma entidade fiscalizadora das indústrias; seu papel, já explicitado nas respostas anteriores, é a promoção da competitividade da indústria baiana e se realiza apoiado também na difusão de uma cultura orientada para a produção sustentável e a responsabilidade sócio-ambiental; sob esse aspecto específico, estudos têm demonstrado o crescimento dos investimentos da indústria na adoção de ISO’s, em tecnologias limpas e em ações de proteção ambiental, bem como, o aumento do quadro de profissionais com formação em engenharia ambiental. Agindo com esses propósitos, estamos também contribuindo para fortalecer a imagem da atividade industrial; da sua essencialidade na vida dos povos e da relação de confiança com a sociedade, que são condições fundamentais para a construção do desenvolvimento.

Ciência e Cultura -  Qual a importância da Educação no salto qualitativo de autosuficiencia de mercados internos historicamente ocupados por mão de obra estrangeira?

Reinaldo Sampaio – Aqui, você vai me permitir discordar da afirmação de que o mercado interno de mão-de-obra qualificada é ocupado por estrangeiros. O Brasil tem mecanismos legais de proteção ao trabalhador nacional; o que ocorre atualmente é uma demanda por profissionais de elevada qualificação, cuja oferta interna não tem sido capaz de atender. Isso ocorre principalmente com as atividades ligadas às engenharias e às chamadas ciências duras; tal situação resulta de insuficiente formação de engenheiros e profissionais das ciências exatas pelas nossas universidades. Enquanto no Brasil, apenas 5% dos que concluem cursos universitários formam-se em engenharia e apenas 6% em ciências exatas; a média mundial entre os países de economia de base industrial é de 20%, na Alemanha de 31% e na China, de 39%. Portanto, precisamos de muito mais profissionais dessas áreas, não somente para atender a demanda atual decorrente do ciclo de expansão da economia brasileira, mas, para dotar o Brasil de um esteio técnico-científico nacional que permita à nação o domínio das tecnologias e das ciências do futuro.

Ciência e Cultura -  Questão aberta, para o que for necessário.

Reinaldo Sampaio – Apenas agradecer o privilégio de ser ouvido por um núcleo de (in)formação da nossa egrégia Universidade Federal da Bahia.

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