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Atualizado em 21 DE novembro DE 2012 ás 15:50

Marcos Pontes

Marcos Pontes foi o primeiro astronauta brasileiro a participar de uma missão espacial. Há seis anos, ele decolou a bordo da espaçonave russa Soyuz TMA-8 rumo à Estação Espacial Internacional, retornando à Terra no dia 09 de abril de 2006. Tendo realizado o sonho de quase todas as crianças do mundo, Marcos Pontes se destaca como o primeiro astronauta profissional do Hemisfério Sul do Planeta, formado pela NASA, a viajar pelo espaço com a bandeira de seu país. Após a sua volta, o cosmonauta tem se dedicado a participar de diversos eventos no Brasil e no mundo contribuindo para o ensino das ciências e colaborando na luta pela educação de qualidade entre as crianças e jovens de escolas públicas e privadas brasileiras.

Por Mariana Alcântara
alcmariana@gmail.com

A temática de sua conferência no 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia será “Quando Crescer, Quero Ser Um Astronauta!”. O que pretende abordar para inspirar esta geração de futuros cientistas brasileiros?

Através de uma narrativa de eventos de minha vida, falarei sobre conceitos e atitudes fundamentais para uma pessoa partir de um sonho e transformar essa ideia em realidade.

Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro

Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro

O senhor é ainda o único astronauta no Hemisfério Sul. Este dado confere? O que é preciso acontecer na educação brasileira para que mais crianças e jovens realizem o sonho de se tornarem astronautas?

Eu sou o primeiro astronauta profissional (turma da NASA com dois anos de formação) de nacionalidade única de um país do Hemisfério Sul do Planeta. Existem turistas e alguns profissionais, como o Andy (nascido na Austrália) que foram para os Estados Unidos, tornaram-se cidadãos americanos, foram selecionados pela NASA e voam com a bandeira americana, como astronautas americanos. Sobre a educação brasileira, precisamos de uma revolução de coragem política e atitude dos profissionais de educação para concentrar esforços sobre o ensino fundamental: melhorar a formação, o respeito, o reconhecimento e os salários dos professores; melhorar a infraestrutura das escolas em laboratórios, qualidade e número das salas de aula, bibliotecas, salas de computadores. Ter ensino de período integral em todas as escolas públicas do País. Incluir no currículo matérias de desenvolvimento pessoal, desenvolvimento sustentável e voltar às matérias de cidadania. Parar de gastar com coisas como quadros digitais, um laptop por criança, etc. e investir para ficar excelente no básico. Depois que isto estiver feito, aí sim, pensar em um laptop por criança, etc.

O senhor foi o primeiro brasileiro a conquistar o espaço. Qual foi a sensação de olhar o Planeta Terra sob uma perspectiva vista por tão poucos homens?

A sensação é maravilhosa do ponto de vista pessoal. No meu livro “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira”, disponível para compra autografado pelo meu website www.marcospontes.com.br, conto essa sensação e muito mais fatos nunca divulgados pela imprensa do antes, durante e depois da missão.

O senhor realizou o sonho de muitos jovens: ser um astronauta! Quais são as dicas para que um estudante brasileiro, principalmente o de escolas públicas, possa seguir esta carreira?

Não desistir do sonho, mesmo que falem que é impossível, cuidar da saúde, estudar muito, trabalhar, persistir e sempre fazer mais do que esperam de você. No meu livro “É Possível! Como Transformar Seus Sonhos em Realidade”, também disponível autografado no meu website, eu dou todas as instruções e técnicas para todos os jovens realizarem seus sonhos. Vale a pena conferir!

Quais foram os principais experimentos que o senhor levou para o espaço? Qual a importância deles?

Foram oito experimentos: dois tecnológicos (para desenvolvimento de produtos), quatro científicos (para desenvolvimento de conhecimento) e dois educacionais (para desenvolvimento de futuro). Nossos cientistas foram extremamente elogiados no exterior. No Brasil, a imprensa fez um péssimo trabalho e nada falou sobre suas descobertas e importância. Aqui não há espaço para descrever esses experimentos à altura dos seus méritos. Portanto, convido a todos os brasileiros que realmente querem saber de fatos a lerem todos os detalhes dos experimentos, inclusive com entrevistas com os pesquisadores, no meu livro “Missão Cumprida. A História Completa da Primeira Missão Espacial Brasileira”.

Poderia citar alguns exemplos de tecnologias desenvolvidas para ajudar os astronautas que foram incorporadas ao nosso dia a dia?

Esses são parte do conjunto de tecnologias espaciais chamados spinoffs. No website spinoff.nasa.gov vocês podem encontrar centenas de exemplos.

Como é passar dez dias numa estação espacial? Quais os maiores perigos e desafios?

A vida na ISS é extremamente corrida e atarefada para nós. Eu sou um astronauta profissional do tipo “especialista de missão” (que na prática significa “mecânico de espaçonave (risos). Assim, como membro da equipe de manutenção da ISS, minhas funções são, basicamente, operar, consertar, montar e reconfigurar sistemas da espaçonave. Existem riscos grandes envolvidos, basta considerar o ambiente espacial (praticamente zero pressão, irradiação, dinâmica, etc.) e ver a importância de mantermos os sistemas operando perfeitamente. Considere também o aspecto emocional na equação. Exige uma preparação intensa.

Soubemos que o senhor é candidato a empreender uma viagem à Marte. Quais as etapas a serem alcançadas para conquistar esta vaga? Porque esta viagem é considerada como sendo apenas de ida? E porque o senhor iria mesmo assim?

Como astronauta do “core” de astronautas da ISS, eu posso ser escalado (e gostaria muito). Não existem “etapas”, mas é importante participar das iniciativas e desenvolvimentos do projeto. Posso depender de acordo internacional do Brasil ou não, se aceitar alguma das ofertas de empresas e instituições internacionais que frequentemente me convidam para trabalhar nos seus projetos. Agora, uma missão à Marte deve acontecer apenas na década de 2030 e as primeiras tripulações realmente terão que abrir caminho e montar toda a estrutura em Marte, com pouca chance de retornar depois de todo o dano à saúde que a viagem de ida causará. Estarei velho (se estiver vivo) naquela época. Ir para Marte e cumprir essa missão seria uma maneira de encerrar com chave de ouro minha participação nesse mundo, ajudando outros (a humanidade) a chegarem lá.

O primeiro homem a pisar na Lua, Neil Amstrong, faleceu este ano aos 82 anos de idade. E o senhor teve a oportunidade de conhecê-lo! Quais foram as suas impressões?

Uma pessoa exemplar como profissional. Uma coisa que eu gostava muito, em particular, era o fato de ele ter se tornado um professor depois que voltou do espaço. É um exemplo que eu sigo. Professor é a profissão mais importante de qualquer país realmente sério com o desenvolvimento.

Qual a situação do Brasil com relação às pesquisas espaciais desenvolvidas? O que é preciso fazer para nos igualarmos aos países desenvolvidos? Quais os impactos sociais que este tipo de investimento pode proporcionar?

Nosso programa espacial tem todas as áreas de trabalho, mas nenhuma realmente desenvolvida. Faltam melhores condições de trabalho para os profissionais, melhores salários para engenheiros, técnicos e cientistas, mais contratações, melhores laboratórios, etc. Existe um longo caminho a ser percorrido pelo Brasil. Interessante notar que fomos um dos primeiros países a começar um programa espacial (início da década de 1960!). Por aí você vê que algo não funcionou bem no Brasil. Em resumo: muito política e pouco resultado. Precisamos mais investimento em ciência e tecnologia? Sim. Mas a questão é muito mais profunda. Precisamos de melhor legislação, mais integração entre indústria, academia e centros de pesquisa, menos ego, mais políticos que realmente sejam preparados para entender a importância da educação, ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país, mais humildade para reconhecer que ninguém sabe tudo e precisamos ouvir e aprender mais, mais políticos que realmente se dediquem ao desenvolvimento, mais foco da imprensa em divulgar coisas produtivas para o país, menos polêmica, sensacionalismo e fofoca, mesmo que isso reduza um pouco os lucros dos meios de comunicação, melhores exemplos, mais professores… bons professores. Os impactos positivos de um programa espacial para um país do tamanho do Brasil são óbvios: melhor monitoramento do território, maior produção agrícola, maior segurança, maior capacidade de resposta antecipada a desastres naturais, melhor previsão climática, melhor comunicação, maior independência tecnológica em áreas críticas, maior número de inovações, mais empresas, mais empregos etc.

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