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Atualizado em 17 DE junho DE 2011 ás 14:55

Cosme Batista

Diante da polêmica em torno do livro, “Por uma vida melhor”, do MEC, o doutor em Linguística Aplicada e professor da Uneb em Juazeiro, esclarece: “o livro não fala de 'erro', quem evidenciou a questão do 'erro' foi a mídia"

Do Multiciência, por Michele Laudillo* (texto) e Emerson Rocha* (foto), matéria especial para o Gazzeta do São Francisco

A distribuição do livro, “Por uma vida melhor” pelo Ministério da Educação (MEC) para Educação de Jovens e Adultos (EJA) causou polêmica na sociedade, por trazer em seu conteúdo, além do português culto, questões como as variações linguísticas, variante social da língua que não segue a gramática normativa, mas o contexto social de origem. Na obra, são usadas frases como: “Nós pega o peixe”, com a explicação de que “na variedade popular, basta que a palavra ‘os’ esteja no plural”, pois “a língua portuguesa brasileira admite esta construção”.

Os defensores da norma culta criticaram a publicação da obra, justificando que o livro incentivaria alunos a praticarem erros. Contudo, o que o livro apresenta são concepções da sociolinguística – sub-área da Linguística que estuda a variação da língua e o seu funcionamento social – e alerta para a existência do preconceito linguístico.

Diante da polêmica em torno dos supostos “erros”, o professor Cosme Batista dos Santos, professor da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro, e doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, esclarece que, na concepção da sociolinguística, “não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma situação e em outra não”. Assim, é necessário compreender o conceito de certo e errado, e inserir na escola o ensino das variações linguísticas. Para o professor, os meios de comunicação fizeram uma interpretação errada da obra. “O livro não fala de ‘erro’, quem evidenciou a questão do “erro” foi a mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem”.

Multiciência – Parte da sociedade acredita que o MEC defende que alunos sustentados pela sua variação linguística podem falar ‘errado’, mesmo em sala de aula. Qual a justificativa da sociolinguística como ciência a respeito do que é a variação da língua e sua relação com a norma culta convencional?

Cosme Batista – A sociolinguística vai explicar que certas estruturas da linguagem popu lar têm uma razão de ser, têm uma função e não é à toa que elas existem. A nossa linha é trabalhar com o relativismo linguístico, considerando que não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma circunstância e em outra não. O que a escola tem que fazer é assumir que tem uma heterogeneidade cultural em seu ambiente, sem abrir mão de ensinar a escrita padrão, o dialeto culto, pois é através da leitura e da escrita que o aluno tem acesso a outros conhecimentos.

Multiciência – Na obra, ressaltou-se a substituição da classificação certa ou errada por adequada ou inadequada, a depender da situação. O que se entende por erro ou norma adequada?

Cosme Batista – A tarefa da escola não é apenas corrigir qual o certo e qual o errado, mas tentar estudar e explicar porque certas estruturas são consideradas erradas e porque outras são consideradas certas. Quais as relações de poder envolvidas? Por exemplo, se um aluno de determinada comunidade vai à escola e aprende que o correto é o dialeto padrão e que os outros são errados, ele pode chegar à sua comunidade discriminando o dialeto de seus pares, por exemplo, o dialeto dos idosos de tradição oral. Eu tenho depoimento de aluno que passou a vida escutando as histórias contadas pelos pais e avôs e que, após a escolarização, deixou de escutá-los, por não dar mais valor aquela linguagem. Por isso, a escola deve permitir que o aluno aprenda o saber escolar, respeitando o seu saber, a sua língua e a sua cultura, porque isso também é conhecimento.

Multiciência – Por que a Sociolinguística admite a construção “Os menino pega o peixe”, presente no livro. Em que circunstâncias a aplicação dessa oração fere a norma culta da língua portuguesa e deve ser ‘corrigida’?

Cosme Batista: Olha, para William Labov, pai da sociolinguística, a estrutura está correta. Ele diz até que é mais correta do que dizer “Os meninos”, por conta da redundância gerada pela dupla flexão “os” e “meninos”. Ou seja, é uma dupla flexão, desnecessária. Quando um usuário fala “Os menino” ele está simplesmente reduzindo, e apagando uma redundância que aparece em “Os meninos”. Em alguns casos chega a ser mais grave como na expressão: “Os meninos jogam”. Na expressão, você tem uma dupla redundância, então, a sociolinguística vai explicar que essa estrutura não é errada e pode ser legitimada, assim como se legitimou a norma padrão correta. Então, são dois usos possíveis.

“A ocupação da escola não é apenas corrigir qual o certo e qual o errado”.

Multiciência – Um conceito que, apesar de não ser novo, é a expressão preconceito linguístico. Como ele afeta a vida social de um aluno?

Cosme Batista – Um aluno de certa zona rural, por exemplo, sofre preconceito linguístico quando ele não é convidado a falar na escola. O aluno leva um conhecimento prévio para a sala de aula, um saber rico, no entanto, não é convidado a compartilhar essa experiência com os colegas e com a escola. O segundo é quando ele é convidado a falar, porém é corrigido de imediato antes de terminar sua história, antes de falar do seu mundo e de si. Ele também sofre um preconceito linguístico quando a escola, mesmo sabendo que ele tem um dialeto diferente do padrão escolar, não se esforça para poder proporcionar para ele outro dialeto. Isso também é um preconceito porque a escola não soube compreender a relevância dessa comunicação intercultural, ou seja, ela não deu possibilidades para que ele pudesse ter uma forma de deslocamento, a apropriação de um novo saber e de seu uso, como uma forma de empoderamento.

Multiciência – Como um professor, em sala de aula, deve se posicionar quando um aluno expressar “Os caderno rasgou”?

Cosme Batista - Concretamente, a escola escuta o aluno e fala: eu entendi o que você está falando, porém se você continuar falando desse modo, tem gente que não vai lhe escutar. Nesse caso, a escola vai entrar com o conhecimento da flexão gramatical padrão para que o aluno possa se deslocar e potencializar a sua fala. Nesse caso, a escola reorientou, ampliou as possibilidades, fortalecendo o aluno para falar em diversas situações.

Multiciência – E se em uma avaliação de Língua Portuguesa, o aluno escrevesse: “Os carro é azul”, como um professor avaliaria essa questão? O aluno seria corrigido pela gramática normativa ou a variação lingüística prevaleceria?

Cosme Batista – Quando a escola elege que “Nós vamos” é o correto, e o aluno usa “Nóis Vai” em uma avaliação, por exemplo, ele será cobrado pelo padrão escolar. Mas ele estará errado não é porque utilizou “Nois vai”, é porque ele não usou o padrão escolar. É aí que reside a diferença entre o errado e o inadequado. O inadequado é quando o aluno tem consciência que já aprendeu que, naquele contexto, o uso é aquele e, no entanto, ele não usou o que foi ensinado para ele. O que é diferente de quando você diz que não se pode falar “Nois vai”, porque isso cria um silenciamento cultural e linguístico. É como se a escola dissesse para o aluno: eu só vou lhe escutar quando você disser: “Nós vamos”, porque “Nois vai” não é correto. Ideologicamente é um silenciamento: não me conte a sua história, não me conte quem você é, o que você faz. Assim, a escola apaga a oportunidade de conhecer o aluno e a sua história.

MultiCiência – Como o professor pode trabalhar a gramática normativa e a variação linguística em sala de aula?

Cosme Batista - A sugestão é tratar a língua como objeto de estudo e investigação, ou seja, se eu quero proporcionar para o meu aluno o aprendizado das variações linguísticas, é importante que eu faça isso como trabalho de investigação. Então, uma coisa que eu proponho é que o aluno, a partir de sua inserção multicultural, seja capaz de escutar as narrativas dos idosos da sua comunidade. As narrativas dos idosos vão aparecer como uma variação dialetal, presente no cotidiano de determinada comunidade. Quando o aluno vai conhecendo essa variante, como investigador, ele tem duas conquistas: uma é que ele aprende a lidar com a variação dialetal, uma maneira particular de conhecer e explicar o mundo; a outra é que ele vai passar a estudar a razão de ser daquela variante linguística a partir do padrão de escrita da escola. Assim, é possível que ele entenda como aquela narrativa popular tem sentido. E para que ele possa compartilhar essa conquista, ele precisa estudar na própria escola, o que é uma narrativa, quais os seus padrões, quais as suas estruturas, além de poder ler e escrever no português padrão um pouco sobre aquilo que ele viu, ouviu e sentiu.

Multiciência – Por que é importante professores e até livros abordarem as variações linguísticas em sala de aula?

Cosme Batista - O livro didático, assim como a educação de jovens e adultos, precisa ser culturalmente relevante. E o que seria um livro didático culturalmente relevante? É aquele que conhece profundamente para quem se destina o seu conteúdo, quem é o seu leitor em sala de aula. Quando um livro didático coloca para um aluno que falar “Nois vai” não é errado, a obra estará apenas materializando uma relação que, em minha opinião, e de muitos sociolinguístas, é uma relação de respeito com o dialeto popular e, consequentemente, com o próprio povo. O livro não pode negar ao aluno o direito de valorizar o seu dialeto e, ao mesmo tempo, o direito de aprender outras variantes da sua própria da sua língua.

Multiciência – Como o Sr. avalia a função dos meios de comunicação, eles ajudaram a esclarecer a temática ou reproduziram preconceitos?

Cosme Batista - O que está caracterizado é uma enorme ignorância sobre o assunto. O material foi mal interpretado. O próprio livro não fala de “erro”, quem colocou a questão do “erro” foi à mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem. O ensino da variação linguística é um conhecimento científico como qualquer outro. O aluno que está na idade escolar também tem o direito de saber quais são as descobertas científicas da linguística e não ficar o tempo todo decorando as normas da gramática normativa, como se isso fosse potencializar os seus usos mais competentes da língua e do conhecimento. E a gente chegou a um estágio de descoberta sociolinguística que nos permite dizer com segurança que “Nois vai” não é errado, é apenas inadequado para algumas situações.

Link útel: Multiciencia

*Estudantes do curso de Comunicação Social /Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia – Uneb

6 comentários para Cosme Batista

  1. As observações do prof. Cosme Batista são lúcidas e esclarecedoras. Na condição de professor do curso de jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, na cidade de Cachoeira, confirmo a importância de se conscientizar alunos, sobretudo os que são oriundos das comunidades rurais, quanto à necessidade de se respeitar os dialetos de tradição oral de seus locais de origem. Parabéns pela entrevista.

  2. Raul F Iserhard disse:

    Qual é o fato, não a suposição, do preconceito lingüístico? Ainda não pude percebê-lo. Entendi a entrevista, mas ela se apóia muito mais em pressupostos ou suposições de que as coisas seriam ou serão assim. Mas não mostra que elas são assim. E ao ler um texto escrito segundo a norma gramatical, como ficará o indivíduo diante da sua fala ou escrita adequada mas não correta? Obedecerá ao seu modo e o de seu ambiente ou tentará corrigí-lo e corrigir-se? Nesse momento, não estará praticando um preconceito em relação ao seu ambiente, para não dizer a si mesmo? Pois, querendo ou não, ele destoará. Penso que estão mesmo é acabando de complicar de vez o ensino da língua portuguesa. Pode ser “politicamente correto”. mas em relação à língua, não tenho essa certeza.

  3. Cosme disse:

    Prezados Carlos e Raul,

    Em primeiro lugar, um bom São João para vocês.
    Em segundo lugar, agradeço pelos comentários sobre a entrevista produzida pelo o Multiciência UNEB-Juazeiro e publicada também no belíssimo site Ciência e Cultura da FACOM – UFBA.

    Em terceiro lugar,

    Carlos, eu concordo contigo que ainda temos muito o que fazer para a construção de uma escola ou de um projeto de escola comprometida com a diversidade cultural e linguística.

    Raul, na entrevista eu tento esclarecer um equivoco de intepretação de setores da mídia em relação ao livro didático Por uma vida melhor, que inclui a variação linguístca como objeto de ensino da lingua portuguesa. O que há de errado nisso? O que há de errado em perguntar se pode falar “nós vai…” e o que há de errado em responder que “nós vai…” é uma variação possível na nossa língua portuguesa? Na minha opinião, creio que também de outros, a grande mídia, em especial, demonstrou uma grande ignorância em relação à nossa diversidade linguística e cultural.

    Em relação à leitura, claro, há conflitos, mas são conflitos produtivos e um desafio para a mediação letrada culturalmente relevante. O país tem uma dívida muito grande em relação à política de leitura, sobretudo para os que mais precisam dela. No lugar de uma boa política de leitura (bibliotecas, teatro, salas de videos, etc), fazem avaliações e expõem os ditos “erros”, desqualificam o dialeto popular, etc. A critica ao livro didático é preconceituosa e reflete a representação que a sociedade em geral tem do ensino de língua portuguesa, ou seja, o ensino da gramática normativa, o ensino prescritivo pela perpetuação de um model excludente de ensino.

    Como eu me orienta pela perspectiva descritiva do ensino e pelo estudo da variação dialetal como parte do ensino da lingua, por isso a minha crítica e a minha defesa das contribuições da sociolinguística para o ensino do português na escola.

    Um forte abraço,

    Cosme

    Petrolina e Juazeiro, São João de 2011

  4. Ana Gloria batista dos Santos disse:

    Na Língua Portuguesa existem as suas complexidades e é desde cedo nas séries iniciais que se devem começar a trabalhar algumas questões e dentre essas está a variação linguística, descontruindo assim a ideia de que só há uma única forma de se fazer o uso da Língua, tornando assim o ensino mais prazeroso.

  5. Claudia Maria Santa Rosa disse:

    Gente o preconceito não está apenas nas escolas e sim em todo o ensino chegando até ao superior. Agora por exemplo estou fazendo um curso de “Produção Textual”, o professor lançou um tema para fazermos um texto dissertativo, o tema era: “Existe língua correta?”
    Bom, na minha visão como aluna existe a “língua Padrão”, pois a gramática está aí para tentar padronizar as variações linguísticas, porém creio que seja improvável ou até injusto chamarmos de “língua correta”. Então eu apresentei a minha ideia com relação ao tema e fui chamada de tola, pois o meu professor disse: – É claro que existe a “língua correta” porque se não existisse a língua correta, então por que existe a gramática?
    Bom, sou aluna de Letras e até agora não falei o que acho com relação a reportagem. Legal essa tentativa de abrir novos horizontes em busca de tornar o ensino mais prazeroso, acho até que a variedade linguística deva ser considerada uma riqueza, pois mostra a diversidade da nossa cultura e com certeza irá enriquecer o aprendizado, porém como estudante de Letras, acho que essa discussão deveria se deter ao ensino superior, pois iria acabar por complicar ainda mais o ensino de português nas escolas, querendo ou não creio que o problema não está nos alunos e sim em nós, professores. Creio que ainda não estamos preparados para trabalhar com essa visão com nossos alunos, seria muito bom os alunos terem acesso as descobertas científicas da linguística e não ficar o tempo todo decorando as normas da gramática normativa. Mas como fazer isso dentro de uma sociedade tão preconceituosa?

    Professor Cosme, adorei ter lido suas ideias e palavras exatamente no momento em que pensei que estivesse errada diante de tudo que aprendi até agora, estou no último período de Letras e nunca, nunca mesmo, tive um professor tão preconceituoso…
    Um grande abraço e foi um prazer aprender com o senhor.

  6. Georgeana disse:

    LÍNGUA (Georgeana Alves)

    Há muitas línguas
    A língua do Pê
    Do Saci-Pererê
    Do Senado
    Do favelado
    Do letrado
    Do letrista
    Do lingüista

    Há línguas extintas
    Há muitas línguas
    A língua das tintas
    Da pintura
    Da Magistratura
    Da prisão
    Da mansão
    Da nobreza
    Da fraqueza
    Da regência
    Da descrença

    Há uma língua Azul
    Há muitas línguas
    A língua de Raul
    De queixas
    De Seixas
    De Camarões
    De Camões

    Há língua de “palmo”,
    De “trapo”
    De “badalo”
    De Saramago!!!

    Há línguas no museu
    Há língua de Abreu
    De formação
    De Catalão
    De Libra
    De fibra
    De Louis Braille!

    Há línguas no baile
    Há muitas línguas
    A língua indiferente do indiferente
    A língua oposta do oposto
    A língua nacional do irracional

    A língua do jornal
    Do sinal
    Do santo
    Do Esperanto
    Do Romeno
    Do tormento
    Do Chico Bento!

    A língua de Castro
    A língua do astro
    Do roqueiro
    Do grafiteiro
    Do “jeitinho brasileiro”!

    Há línguas no mundo inteiro!
    A galega
    A francesa
    A espanhola…

    Há língua portuguesa!
    Filha do Latim
    Falada por Jobim
    Em Portugal,
    Angola,
    Guiné-Bissau… Cresceu;
    E a tribo Guarani também aprendeu!

    Língua da Ilha da Madeira…
    Do Brasil!
    À brasileira!
    Do nordestino
    Do velho
    Do jovem
    Do menino
    Do mineiro…

    Português brasileiro
    Também é Português verdadeiro!

    Há línguas e línguas
    Há muitas línguas
    A língua Viperina
    A Neolatina
    A analfabética
    A poética
    A Materna
    A “eterna”…

    A língua da “guerra”,
    A língua Viva,
    E viva todas as línguas da Terra!
    A verbal
    A musical
    A gestual
    A obscena
    A da cena…

    A língua da Lei
    Da Canção
    Da Boa Razão
    Do Destino
    Dos Meios
    De Afonso Arinos…!

    Há língua nas leis do mundo inteiro!

    Com a língua se acha o respeito
    O direito
    A dignidade
    A amizade
    A razão
    A compreensão…
    O caminho da inclusão!

    Língua pra falar
    Pra amar
    Pra participar
    Pra ler
    Pra escrever…
    Pra sonhar!

    Com a língua se viaja
    Pela imagem
    Pela coragem…
    Pelos mares!

    Com a língua se descobre novos lugares
    Outras terras
    Outras Serras
    Outros saberes!

    Assim a quis
    Machado de Assis
    Com a língua Machado criava
    Os dias quentes de verão
    Os jardins da primavera
    E o beijo dos beija-flores!
    E recriava o romance dos amores!

    E no jardim da infância
    Um pouco de lembrança
    Das cores,
    Das flores…

    Há muitas línguas
    A língua que forma
    Que informa
    Que inclui
    Que exclui…

    Línguas que se destroem
    Línguas que se constroem
    Línguas no trem…

    Língua é poder
    É força
    E domina quem a tem!

    Há muitas línguas
    Há homens sem língua
    Há homens de língua
    Há, porém, homens sem vozes
    Porque lhes roubam a língua!

    Mata-se o Homem, mata-se a língua
    Mata-se a língua, mata-se o homem
    E mata-se todo o mundo!

    Muda-se o Homem, muda-se a língua;
    Muda-se o tempo, mudam-se as línguas,
    Muda-se a língua, muda-se todo o mundo!

    Há muitas línguas
    Há sempre novidades,
    Diferentes em toda e qualquer cidade;
    E do mau uso da língua
    Ficam-se as marcas na sociedade
    E do Casimiriano as saudades!

    A língua define origem
    Traça os destinos
    Ilumina na escuridão
    Quebra as correntes da escravidão
    Expande a mente
    Torna seres mais conscientes!

    Porém, com a sobrevivência na mente
    O aprendizado no chão
    E a incerteza na frente
    Sem lei nem grei:
    É a língua que encontrarei!

    No entanto, resta-me a esperança
    De um estalar de latidos da consciência
    E ainda na minh’ existência
    Poder ver
    Um belo saber
    Um belo viver
    E toda criança ser bem sucedida quando crescer!

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