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Atualizado em 17 DE março DE 2012 ás 22:40

Nelson Papavero

O pesquisador, que atuou como um dos principais colaboradores do Plano Nacional de Zoologia do CNPq, foi uma das grandes atrações do Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado nos dias 5 a 9 de março de 2012, em Salvador. Nesta entrevista, ele fala sobre o tema de sua conferência: Memória da Zoologia Brasileira: O Processo do Conhecimento da Fauna do Brasil desde os Missionários e Cronistas até as Universidades Modernas

POR MARIANA ALCÂNTARA*
alcmariana@hotmail.com

Formado em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP), onde se doutorou em 1971, Nelson Papavero foi um dos principais colaboradores do Plano Nacional de Zoologia do CNPq, no qual fez o levantamento da situação dessa ciência no Brasil. Durante um longo período, foi biologista do Museu de Biologia da USP.

O pesquisador também foi encarregado da área científica do Museu Paraense Emílio Goeldi, atuando como vice-diretor dessa instituição por três mandatos consecutivos. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ) e, no ano de 1994, foi homologado Sócio Honorário desta instituição.

Nelson Papavero é autor de diversos livros e artigos científicos em sua especialidade e, por toda a sua carreira, tem se preocupado com as condições do ensino e da pesquisa de Biologia no Brasil. Atualmente, ministra cursos de pós-graduação em vários centros universitários brasileiros.

Confira abaixo alguns trechos da entrevista concedida à jornalista Mariana Alcântara para a Web Rádio CBZ, que poderá ser ouvida na íntegra neste link: Nelson Papavero.

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Ciência e Cultura – O tema do 29º CBZ é Biodiversidade e Memória. E as suas pesquisas têm tudo a ver com este tema. Então, desde quando podemos datar o início da construção de uma memória da zoologia brasileira?

Nelson Papavero – Veja, desde o “Descobrimento do Brasil”, os primeiros relatos já tratam da nossa fauna e foram extremamente importantes porque causaram uma grande revolução no pensamento europeu sobre a distribuição dos animais na face da Terra. Os primeiros documentos sobre alguns animais do Brasil datam de 1500. Até 1511, há vários relatos sobre a fauna da costa brasileira. Durante o século XVI, aventureiros, jesuítas, cronistas e colonizadores, aproveitando o imenso conhecimento dos Tupinambá sobre a história natural do Brasil, deixaram preciosas informações. As invasões francesas e holandesas no Rio de Janeiro, no Nordeste e no Maranhão também foram importantes para divulgar a fauna brasileira, sempre aproveitando as informações prestadas pelos Tupinambá.

Ciência e Cultura – Com o passar dos séculos, como o processo do conhecimento da fauna foi se modificando e expandindo?

Nelson Papavero – Com a vinda de Dom João VI para o Brasil e a abertura dos portos inicia-se uma nova fase na história do Brasil e da zoologia. O século XIX caracterizou-se por uma enxurrada de naturalistas que exploraram as diversas regiões do Brasil, publicando grandes trabalhos sobre a fauna e depositando as coleções nos grandes museus da Europa. Para conhecer um pouco mais sobre as principais expedições, sugiro que procurem um livro meu chamado Essays on the History of Neotropical Dipterology. No entanto, a fundação de grandes museus no Brasil, iniciada com o Museu Nacional no início do século XIX – o mais antigo das Américas – vai mudar o panorama. São organizados grandes acervos, tanto bibliográficos como de coleções de animais, criam-se as primeiras revistas nacionais para a publicação de trabalhos científicos e são feitas as primeiras expedições por brasileiros para a coleta e preservação de material zoológico. No século XX surgem os institutos e, posteriormente, as grandes universidades, que reforçam e ampliam enormemente estas atividades. Principalmente, no último quarto do século XX, no qual o número de instituições que abrigam acervos mais ou menos importantes cresce exponencialmente. O número de trabalhos de alto nível aumenta proporcionalmente e hoje o Brasil ocupa lugar de destaque nas ciências zoológicas, com um número muito bom de excelentes pesquisadores.

“As teorias mudam constantemente, mas as bases de dados são eternas”

Ciência e Cultura – Quais as ciências responsáveis pelo conhecimento da fauna e como é o processo atualmente?

Nelson Papavero – Hoje os paradigmas vigentes são a Sistemática Filogenética e a Biogeografia por Vicariância, surgidos na segunda metade do século passado, e que causaram uma grande revolução científica nos campos da classificação e da distribuição geográfica dos animais. O Brasil tem uma excelente produção. Ele é considerado o segundo em número de publicações na revista Zootaxa, sendo ultrapassado somente pelos Estados Unidos. A criação e a ampliação dos cursos de pós-graduação nas várias regiões do Brasil aumentaram consideravelmente o número de bons e produtivos pesquisadores.

Ciência e Cultura – Quais os pontos a serem expostos na conferência magna de abertura do 29º CBZ que o senhor considera que chamará mais a atenção da comunidade de pesquisadores brasileiros presentes neste evento?

Nelson Papavero – Espero que continuem, apesar das dificuldades, a produzir seus excelentes trabalhos e que se preocupem muito em coletar em áreas ainda pouquíssimo conhecidas de nosso país. A caatinga deve ter máxima prioridade; é talvez o bioma menos explorado e conhecido, por diversas razões. Além de preservar nas distintas instituições um acervo material: espécimes e bibliografia. Deve-se procurar preservar também o conhecimento popular sobre nossos animais – campo da Etnozoologia, que vem se desenvolvendo excelentemente bem, principalmente na Bahia e no Nordeste, que possuem uma riqueza cultural imensa e diversificada, resgatando um conhecimento transmitido oralmente durante séculos. É necessário preservar o patrimônio material (coleções) como também o cultural. As teorias mudam constantemente, mas as bases de dados (coleções e registros folclóricos) são eternas e devem ser resguardadas com todo cuidado.

Ouça a entrevista na íntegra clicando aqui: Nelson Papavero


*Jornalista, Mestranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade e estudante do Curso de Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico da Facom/Ufba.


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