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Atualizado em 23 DE novembro DE 2018 ás 01:02

Todos podem fazer ciência?

A campanha “Todos podem fazer Ciência” é realizada pela Agência de Notícias Ciência e Cultura com a parceria do Programa C_Livre da Faculdade de Educação. O objetivo central é despertar a vocação científica nos baianos, mostrando que todos temos a capacidade de produzir e entender a Ciência como parte da nossa vida

POR L. COSTA
costa.larissa164@gmail.com

Na manhã da última quarta-feira, 21, tive a oportunidade de cobrir o lançamento da campanha “Todos podem fazer Ciência”, realizado durante a apresentação da doutora e especialista em Comunicação Científica e Tecnológica, a professora da Faculdade de Comunicação da UFBA, Simone Bortoliero, no 9° Encontro de Jovens Cientistas, que acontece até sexta-feira, 23, no auditório do Instituto de Biologia e no Pavilhão de Aulas da Federação I, no campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia. A apresentação foi uma oportunidade não somente pela apresentação, mas também pelo evento, que contou com a visita de estudantes do fundamental ao médio de escolas públicas e privadas do estado.

Durante meu ensino médio participei de eventos como este, mas sentia que eu ainda não era boa o suficiente para entrar na universidade. Sensação que se aprofundou no meu último ano do ensino médio e nunca me deixou totalmente. Ouvindo a professora Simone falar para uma plateia repleta de crianças e adolescentes, entendi que eles teriam algo que faltou a mim e que comprometeu minha confiança: a garantia, explícita, de que todos têm direito ao conhecimento.

Professora Simone Bortoliero apresentou a campanha "Todos podem fazer ciência"/ Fonte: L. Costa

Professora Simone Bortoliero apresentou a campanha "Todos podem fazer ciência"/ Fonte: L. Costa

A campanha “Todos podem fazer Ciência” parte de um princípio muito básico e que a professora fez questão de frisar: não importa sua cor, sua religião, sua nacionalidade ou regionalidade, sua orientação sexual, identidade de gênero, todos podem fazer Ciência. Porque conhecimento é um direito universal. “O saber científico assume um status que tem a ver com o desenvolvimento do país, da saúde e preservação do meio ambiente. Está ligado a nossas vidas de modo irremediável”, afirma a professora.

Uma das personas que me influenciou em minha decisão de seguir a divulgação científica foi o astrônomo e astrofísico Carl Sagan. Tido como um dos maiores divulgadores científicos do século XX, ele tinha visão semelhante a debatida. “Nós somos uma sociedade que é baseada na ciência, mas não entende como a ciência funciona”, dizia na série Cosmos. Anos depois, Simone Bortoliero acrescenta a existência de um histórico de exclusão social da Ciência. “Temos que reconhecer que somos um país preconceituoso e racista, onde a educação científica nos colocou numa situação de baixa autoestima durante muitas décadas. Hoje, através do sistema de cotas, conseguimos ter uma outra realidade dentro da sala de aula que só foi possível através de um grande movimento, feito também pelo movimento negro baiano e nacional”, reforça a pesquisadora.

Assim, negar a determinadas pessoas o acesso ao conhecimento científico é negar também o entendimento da sociedade, da realidade na qual se vive. Não se trata somente de acesso, mas envolve também a produção desse conhecimento. Produção de saber envolve pluralidade, de visões e histórias. A história da Ciência ocidental, com tantos entraves, é o perfeito exemplo. As opiniões discordantes e os embates intelectuais desenvolveram nosso modo de apreender o mundo ao redor. Mas todos os cientistas que participaram dessa história tinham algo em comum: eles tiveram acesso às ferramentas do conhecimento.

Existem ainda problemáticas a serem resolvidas. A professora lembra como a questão de gênero pautou sua carreira, em que pesquisadores reproduzem visões preconceituosas de gênero, onde não consideram as especificidades das mulheres, desconsiderando, inclusive, o direito à “licença maternidade”. Mas tivemos mudanças importantes, que vêm sendo defendidas em quase todos os eventos que cobri ultimamente. Há o reconhecimento de uma nova cara da universidade e o medo de que esse rosto esteja ameaçado. Dizer que todos podemos fazer Ciência, nesse cenário, é também tomar posição. “A campanha não é neutra, não há neutralidade na defesa da Ciência brasileira. Estamos falando de uma das formas de leitura do mundo, entre outras formas”.

O auditório do Instituto de Biologia sediou as apresentações do 9° Encontro Jovens Cientistas/ Fonte: L. Costa

O auditório do Instituto de Biologia sediou as apresentações do 9° Encontro Jovens Cientistas/ Fonte: L. Costa

“Não posso deixar de falar sobre isso. Nós não somos pessoas que propagam o comunismo. Nós não somos cientistas preocupados com a questão ideológica, estamos preocupados com a saúde do povo brasileiro, com o desenvolvimento  econômico, com a nossa indústria, com a biodiversidade do país, a filosofia. Essa visão é muito dura, temos que combatê-la para que os estudantes se sintam confortáveis para produzir”, completa Bortoliero.

Uma das melhores partes, admito, foi conhecer o trabalho da professora Bárbara Rosemar. Acompanhada de alunos do 8° e do 9° ano do Colégio Estadual Pedro Magalhães, onde ministra a disciplina de Educação Científica. A professora conta que busca sempre pergunta aos seus alunos sobre seus interesses para começar a trabalhar o gosto pela ciência deles. “A primeira coisa que eu proponho a eles é que pensem em alguma coisa que eles gostam de fazer. A partir daí são orientados a fazer seus trabalhos com base no que gostam de fazer”, conta. Além disso, através das publicações dos estudos anteriores de outros alunos, Bárbara Rosemar mostra aos estudantes que eles conseguem desenvolver pesquisas, que seus colegas, inclusive, desenvolveram. Se foi possível para eles, então todos podem fazer ciência.

Comigo foi algo semelhante. Em meio a todas as dúvidas comuns aos jovens que estão prestes a se formar, a influência da divulgação científica de Sagan me fez decidir por estudar Comunicação na UFBA. Aqui conheci a Agência de Notícias e a campanha “Todos podem fazer Ciência”, desenvolvida em parceria com a Faculdade de Comunicação e a Faculdade de Educação, apoiada pelo projeto Conhecimento Livre (C-Livre). Mas antes de tudo isso, outra frase do Sagan me acompanhou: “Somos um meio do universo conhecer a si próprio”. Quanto mais gente nessa investigação, melhor.

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

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