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Atualizado em 28 DE novembro DE 2016 ás 22:29

Entre crises, qual a conjuntura geopolítica mundial?

Salvador e a UFBA receberam entre 23 e 25 de novembro a IV SEBARI que reuniu estudiosos das relações internacionais (RI) do país para avaliar a atual conjuntura nacional e internacional, a partir das configurações da nova ordem mundial que surgem, bem como as ameaças de retrocesso no âmbito das RI

POR LARISSA SILVA*
larissajornalismo1@gmail.com

Estudantes e pesquisadores de todo o Brasil se encontraram na IV Semana Baiana de Relações Internacionais (IV SEBARI), realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para discutir e avaliar a conjuntura mundial e desafios para o Brasil. Na pauta central o mal-estar mundial gerado pela crise do modelo capitalista, o impacto da mudança do governo estadunidense para o cenário internacional e a situação do Brasil diante das instabilidades políticas e econômicas.

A mesa de abertura do evento contou com a participação de especialistas na área de Relações Internacionais e do vice-reitor da UFBA, Paulo Miguez | Foto: Salete Maso

De acordo com o doutor em Estudos Internacionais Geraldo Zahran, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assumiu o cargo em um contexto de crise doméstica e internacional, dessa forma, seu primeiro desafio foi lidar com o cenário de guerra no Oriente Médio.

Analisando o legado de Barack Obama e as expectativas para o governo de Donald Trump, eleito neste ano, Zahran afirmou que as estratégias de Barack em relação à questão militar falharam com o fortalecimento do Estado Islâmico, a partir de 2014. Entre as estratégias mais significativas adotadas pelo presidente, destacam-se a tentativa de retomar as relações diplomáticas com a Rússia, que não se concretizou, e a reaproximação com Cuba. “Com a vitória de Trump, o possível legado positivo do Obama está colocado em xeque.”, afirma o professor.

Para ele, o republicano construiu para si um perfil racista, xenófobo, extremamente anti-globalização, protecionista, e será cobrado por isso. Mas também ressaltou que o sistema de governo do presidente eleito dependerá da equipe que ele escolher.

Roberto Goulart, doutor em Ciência Política e professor da Universidade de Brasília (UNB), trouxe para o debate a construção do espaço político da América do Sul, destacando três pontos em comum dos governos dos países sul-americanos: o interesse deles pela integração entre si, a atenção às questões sociais e a relação com os Estados Unidos.

O padrão de desenvolvimento capitalista brasileiro é caracterizado pela precarização do trabalho, perda da potência sindical e redução da intervenção do Estado na economia através da privatização, afirmou o doutor em Ciência Econômica e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Luiz Filgueiras, que também reforçou a existência de um padrão de desenvolvimento e de um modo de inserção internacional tipicamente brasileiro. Filgueiras criticou ainda a dependência brasileira da moeda estrangeira e da produção tecnológica de outros países. “Houve um aumento no consumo tecnológico em detrimento da produção de tecnologia”, constatou.

Segundo Filgueiras, o modelo de desenvolvimento capitalista vive uma crise estrutural não apenas no Brasil, mas na conjuntura internacional, que gera um clima de instabilidade. Ele acredita que esse cenário de crise política, associada à econômica, tem viabilizado a ascensão dos governos de direita e o descrédito dos governos da democracia formal. Suas projeções sobre a resolução desses problemas não são otimistas. Também “não há perspectivas de solução tão cedo”, reforça.

Na plateia da IV Semana Baiana de Relações Internacionais, estavam estudantes e pesquisadores de todo o Brasil | Foto: Salete Maso

Temas contemporâneas em desenvolvimento – Outro debate que integrou o evento abordou a questão da produção energética na escala global e as reformas sociais na América Latina (AL). O professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Igor Fuser, destacou o petróleo como a fonte energética mais decisiva no mundo. Também contou que o Brasil tem aumentado a produção de petróleo graças ao pré-sal, alcançando mais de 2.200.000 barris por dia, número que ultrapassou as projeções dos especialistas.

Para a doutora em Sociologia da UFBA, Anete Ivo, que tratou da problemática do desenvolvimento e reformas sociais na AL, os países desse continente, apesar de formados por povos muito diferentes, têm como aspectos em comum a posição inferiorizada que ocupam na ordem mundial e as políticas focadas em estratégias de transferência de renda. Complementando a questão da falta de compromisso estabelecida com as minorias, a doutora em Direito da UFBA Denise Vitale, mostrou o cenário dos povos indígenas na dinâmica das relações internacionais, reforçando a ainda invisibilidade diante da conjuntura mundial, mesmo tendo avançado em algumas questões. “A partir dos anos 90, a temática indígena começou a estar mais presente na agenda internacional. No entanto, essa participação ainda é muito pequena”, reforça.

Novas arquiteturas da Governança Política Mundial e Regional - As discussões do último dia do IV SEBARI abordaram as políticas comerciais e econômicas mundiais, destacando América Latina e China.

O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em Ciências Sociais, Marcos Lima, ressaltou as iniciativas chinesas empregadas na busca do desenvolvimento político, econômico e social do país. Já o professor da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Ciência Política,  Rafael Villa, destacou a segurança na América Latina, como também os discursos e práticas das instituições responsáveis por essa questão.

A palestra contou também com a professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutora em Ciência Política e Relações Internacionais,  Andrea Hoffmann, e do professor Daniel Aragão (UFBA), doutor em Relações Internacionais.

Para a conferência de encerramento os organizadores do IV SEBARI trouxeram como convidada a professora doutora da Johns Hopkings University, dos Estados Unidos (EUA), Beverly Silver, com a conferência O Fim do Longo Século XX: o Presente em Perspectiva Histórico -Mundial, onde tratou dos conflitos e crises geradas pelo sistema capitalista e das incertezas mundiais, a partir do atual cenário político com a eleição do presidente americano Donald Trump.

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e estagiária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

Colaborou Marina Aragão (Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e estagiária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA)

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