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Atualizado em 4 DE abril DE 2017 ás 17:21

Distúbios Alimentares em Mulheres Negras

A pressão da “indústria da boa forma” em parceria com a exclusão racial chamou a atenção da nutricionista e doutora da UFBA, Liliane Bittencourt. A doutora escreveu, na sua tese de doutorado, sobre Os Transtornos Alimentares em Mulheres Negras em uma pesquisa feita entre estudantes do ensino público Baiano

POR NATACIA GUIMARÃES*
guimaraesnatt@gmail.com

Remédios para emagrecer, dietas milagrosas, corpos esculturais. Mulheres e homem, de diversas classes sociais, são bombardeados com um padrão de comportamento e corpo a ser seguido, todos os dias. Esses fatores, unidos, têm gerado uma sociedade doente. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH) 70 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de transtorno alimentar.

A pressão da “indústria da boa forma” em parceria com a exclusão racial chamou a atenção da nutricionista e doutora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Liliane Bittencourt, que também percebeu a não priorização de mulheres negras nas pesquisas sobre alimentação, isso considerando que 80% da população soteropolitana é negra, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) que divulgou sobre os índices de transtornos alimentares em mulheres negras de baixa renda na capital baiana.

Considerando os dados do IBGE, a nutricionista começou sua pesquisa  padrões de beleza e transtornos do comportamento alimentar em mulheres negras de Salvador, inicialmente influenciada pela curiosidade de entender mais sobre os problemas que afetavam os seus próprios alunos. Alimentações restritas, dietas demasiadas que percebia dentro das salas de aula, foram o ponto de partida para o tema. Ao acessar as redes sociais e participar de comunidades, em redes sociais começou a perceber que existia um grande apelo de meninas que se uniam em busca de apoio na prática de distúrbios como anorexia e bulimia.

Nos grupos existiam meninas de todas as idades e classes sociais e elas se uniam nas redes para tentar, através dos distúrbios, o corpo perfeito. “Elas ignoravam todos os danos que a anorexia ou bulimia poderiam causar e as tratavam como amigas: Ana e Mia”, relatou Bittencourt. Como metodologia de pesquisa, Bittencourt usou questionários e entrevistas, onde coletou informações de participantes, a maioria mulheres, entre 15 e 23 anos. O produto deste ensaio delimitou os lugares de pesquisa na capital baiana.

As conclusões do estudo, de acordo com Bittencourt, trazem perspectivas que devem ser problematizadas. Entre universidades e escolas públicas ela entrevistou meninas negras, de baixa renda e, durante as entrevistas, a professora percebeu uma ligação entre o problema da não aceitação do corpo e as questões alimentares. O estudo também atestou que meninas que autodeclaram negras possuíam menos transtornos do que as que se autodeclaram pardas. Logo, partindo do pressuposto que a concepção de parda seria uma forma de esconder suas características negras e, por conseguinte, a não aceitação.

Bittencourt afirma que há uma ligação entre a não aceitação do fenótipo negro e, posteriormente, a aceitação do corpo. O corpo imposto pela mídia é branco, magro e jovem, afirma a pesquisadora. Contudo, “quando se vê com uma estrutura corporal mais volumosa, de muitas coxas, glúteos a menina/mulher negra não consegue se aceitar, pois não se encaixa no padrão imposto pela mídia”. A confusão identitária se sobressai às questões corporais. Logo, para a pesquisador, a menina negra tem que lidar muito mais com questões relacionadas com a estética, que identifica a negritude, tais como o cabelo e o nariz, que o próprio corpo. “O único padrão que se encaixa é o do corpo hipersexualizado, problematiza a professora”.

A mulher negra é mostrada como um objeto, como se ela não sofresse com as agressões e atitudes racistas à sua volta. No mundo mostrado nas mídias sociais, o da perfeição, ainda tem uma estética branca que relembra o ideal de beleza da Grécia antiga. Esse mundo não condiz com a realidade que se vive na capital soteropolitana e em outros lugares do mundo. De acordo com a estudante do curso de Nutrição da Universidade do Estado da Bahia, (Uneb), Jeane Viana, “é urgente pesquisas voltadas para os grupos de mulheres negras.

A mulher negra pode sofrer estes distúrbios, assim como a mulher branca”. O Núcleo de Estudo e Pesquisa em Gênero, Raça e Saúde (NEGRAS/UFBA) foi um dos resultados do trabalho de Liliane Bittencourt. O NEGRAS tua na promoção de estudos, pesquisas e intervenções que possibilitem a reflexão sobre a situação de saúde de grupamentos e coletividades, considerando as dimensões raciais e de gênero e de classe e tem propostas de aumentar debates dentro da universidade dentro desse universo. O texto foi elaborado a partir da palestra  “ Distúrbios  Alimentares em Mulheres Negras” realizada no dia 17 de marco, no auditório da Faculdade de Nutrição da UFBA.

*Estudante  da Faculdade de Comunicação da Ufba e estagiária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

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