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Atualizado em 27 DE setembro DE 2011 ás 20:28

Fiocruz Bahia leva conhecimento científico para população baiana

Ciência na Estrada une microscópios e lâminas com a utilização de materiais sem muita tecnologia, como células construídas com garrafas pet e réplicas de parasitas e de estruturas celulares para promover divulgação científica entre as crianças

Por Inês Costal
costal.carol@gmail.com

Uma união de entusiasmos. É assim que a vice-diretora do Colégio Estadual Raymundo Matta, Edilene Silva, define o início do trabalho do projeto Ciência na Estrada na escola que dirige, no bairro do Lobato. De fato, foi assim que tudo começou. Marcos Vannier, coordenador do projeto, conhecia a alta frequência de doenças parasitárias no Subúrbio Ferroviário e tinha interesse em desenvolver seu trabalho com estudantes daquela área. A escola há muito tempo esperava por algo novo no ensino que despertasse o interesse dos alunos. Ambos abraçaram a oportunidade.

O Ciência na Estrada: Educação e Cidadania é um projeto de popularização da ciência desenvolvido por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Biomorfologia Parasitária (LBP) do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz – Fiocruz-Bahia. O trabalho, que começou há cerca de cinco anos, promove o ensino da ciência com ludicidade e prática através de feiras científicas e formação de alunos monitores nas escolas. O projeto é um dos destaques da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano que acontecerá de 17 a 23 de outubro.

No ônibus do projeto, materiais e equipamentos de laboratório são mostrados a estudantes

Ciência Popular – O estudo dos parasitas e do que eles fazem às células hospedeiras é a área de trabalho do LBP, grupo que desenvolve atividades de pesquisa experimental na busca de medicamentos antiparasitários. É no laboratório, que possui reconhecimento pela patente de um possível novo medicamento para a Doença de Chagas, uma pesquisa da chamada “ciência dura” – termo utilizado para designar a ciência relacionada à biologia, física e química – que o projeto de educação científica é realizado. O grupo une em suas atividades a ciência experimental e a ciência para a população.

O Ciência na Estrada alia o uso de microscópios e lâminas com a utilização de materiais sem muita tecnologia, como células construídas com garrafas pet e réplicas ampliadas de parasitas e de estruturas celulares em suas apresentações. Os experimentos também são realizados de forma simples, como o uso de canudos para exemplificar como ocorre a eletrização por atrito. Outro grande atrativo do projeto é uma célula gigante, uma estrutura utilizada para falar de um mundo invisível e transformar a ciência em algo que a criança pode enxergar.

Réplica de célula mostra os componentes intracelulares

“Nosso objetivo é mostrar para a criança que ela também faz parte desse mundo, despertar a vocação científica nela e mostrar que se ela estudar vai ter o conhecimento e poderá fazer a mesma coisa”, diz Gustavo Santos, colaborador do projeto. Antes de começar as atividades em uma unidade ou instituição que solicita a visita, a equipe do Ciência na Estrada faz um diagnóstico da situação do local e das necessidades dos estudantes para a adequação de suas atividades.

Segundo a vice-diretora Edilene Silva, o trabalho do Ciência na Estrada resultou em uma mudança de comportamento na educação e em visível melhora na sala de aula. “Foi um trabalho rico, bem amarrado e a partir de um bom conhecimento prévio da escola. Os alunos manipularam, experimentaram e usufruíram da estrutura da Fiocruz. Não houve apenas a disseminação de informações sobre saúde, o projeto atingiu todo o âmbito da vida dos alunos”, afirma Edilene.

Alunos do Colégio Raymundo Matta se tornaram multiplicadores do mundo da ciência


Os resultados da visita ao Raymundo Matta ainda são perceptíveis. Os estudantes que se tornaram monitores na época são vistos e sinalizados como alunos multiplicadores e têm a liberdade de conversar com outros estudantes e disseminar o conhecimento adquirido.

Brincar para ensinar – Um dos personagens que apresenta o mundo científico às crianças e aos adolescentes é o “bruxo da ciência”. Um dos pesquisadores da equipe com um kit de mágico, na verdade materiais simples como o já citado canudo, mostra ao público “mágicas científicas”. O uso do personagem permite a explicação de princípios básicos da ciência de forma simples e lúdica.

Entre os produtos desenvolvidos pela equipe do projeto há livros, cordéis, vídeos e jogos eletrônicos. Tudo utilizado de forma a mudar a linguagem hermética da ciência e despertar a curiosidade do estudante. Os jogos eletrônicos são os que mais chamam a atenção nas aulas e feiras de ciência. O Indyquest, jogo de perguntas e respostas, tem cinco modalidades, cada uma abordando um tema em doenças parasitárias. O Vida de Verme aborda questões sobre os parasitas causadores da teníase e da esquistossomose.

Os alunos costumam se sair bem melhor quando os questionários são respondidos no jogo do que em formato de prova. A solução é transformar todas as avaliações em jogo? Claro que não, mas acrescentar elementos divertidos como esses durante as aulas de ciência faz a diferença no aprendizado.

Os jogos, vídeos e até as publicações do Ciência na Estrada foram feitos pelos alunos da equipe que, com exceção da vice-coordenadora que é antropóloga, tem formação em ciências biológicas. Nenhum deles tem muita experiência ou habilidade em computação, editoração ou produção e edição de vídeos.

As animações em vídeo são sequências de desenhos em slides do programa Powerpoint editados no Movie Maker, outro programa encontrado em qualquer computador; os jogos também foram elaborados em linguagem de programação simples, inclusive é possível elaborá-los a partir de tutoriais na internet; o livro sobre formas de evitar as parasitoses foi diagramado por Eline Deccache, vice-coordenadora do projeto, que não tem qualquer conhecimento especifico na área. Elementos que podem ser produzidos e utilizados de forma fácil pelos professores e que contribuem para a compreensão da ciência e para o despertar da vocação científica.

Para Santos, o trabalho compensa: “Com esse trabalho você, que é pesquisador, tem o reconhecimento do público, uma coisa que é maluca. Eles não te veem mais como um ser estranho enfiado em um laboratório. Já aconteceu de um aluno problemático sair da aula dizendo que foi muito prazeroso, que a aula foi boa. Aí você sabe que conquistou o menino”.

Atividade pouco valorizada – Divulgar o conteúdo de ciência para a população não é percebido como uma atividade científica, mas como algo distante da prática séria do trabalho científico. É essa a visão de outros pesquisadores sobre o trabalho de popularização cientifica do LBP, segundo seus coordenadores.  “É como se o que a gente fizesse fosse perfumaria. Ciência é a ciência dura com experimentos e gráficos. Nosso trabalho é visto como bonitinho, interessante para dar visibilidade à ciência, mas só isso”, diz Deccache.

Serviço

As instruções para solicitar uma visita do projeto estão disponíveis no site do Ciência na Estrada.

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