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Atualizado em 24 DE novembro DE 2011 ás 11:54

Venda da natureza pelo mercado imobiliário é tema de estudo

Peças publicitárias associam empreendimentos imobiliários à natureza primitiva tornando-os mais caros e territórios excludentes na Região Metropolitana de Salvador

Por Vinicius Carvalho*
vinicapital@hotmail.com

É cada vez mais comum encontrar nas conversas do dia a dia da população soteropolitana referências à quantidade de empreendimentos imobiliários que tem surgido na capital baiana nos últimos anos. A ocupação dos espaços, seja por meio de grandes empreendimentos ou de construções irregulares, nas grandes e pequenas cidades é, sem dúvida, uma das grandes preocupações dos Geógrafos. Recentemente, contudo, algo em especial despertou a atenção do Professor Doutor Wendel Henrique, do Instituto de Geociências da Ufba. A comercialização da natureza por parte dos agentes do mercado imobiliário em Salvador e região metropolitana, se tornou tema de sua pesquisa.

Henrique, na verdade, estuda a apropriação da natureza por parte das estratégias de venda do mercado de imóveis desde que começou a desenvolver a sua tese de doutorado, em 2001. À época, a observação dos anúncios de empreendimentos imobiliários teve como foco os jornais de domingo na cidade de São Paulo, bem como exemplos da cidade de Florianópolis, onde o professor residia.

Empreendimentos valoram áreas ainda arborizadas na Paralela

“Impressões em tons de verde, uso de folhas e flores para fins estéticos e exagero no tamanho e na aproximação de áreas verdes” são algumas das técnicas usadas nas peças publicitárias do mercado de imóveis com fins de associar os empreendimentos à ideia de” natureza primitiva, a qual se torna sinônimo de qualidade de vida e transforma-se em valor econômico, aumentando os preços dos apartamentos, casas e edifícios”, diz o pesquisador num texto, resultado da pesquisa financiada pelo CNPQ e publicado em abril deste ano num periódico da Universidade Federal do Ceará.

Henrique explica, ainda, que por meio de anúncios que supervalorizam a natureza, as empresas do ramo associam as ideias de uma natureza simbólica a um conceito de exclusividade e privilégio que faz referência direta a raridade das áreas de concentração do verde nas grandes cidades e que muitas vezes está expresso nas denominações dos empreendimentos, seja com expressões do nosso idioma, seja com traduções das mesmas em inglês e francês. A criação do desejo de exclusividade é, portanto, estratégia de venda que expressa com veemência a negação do acesso a todas as pessoas e, desta forma “definem-se, do ponto de vista geográfico, territórios excludentes”.

Áreas verdes são cada vez menores na região da Paralela

As áreas da cidade que estão fora do foco de atenção do processo de valorização dos agentes do mercado de imóveis, explica o professor, “são fortemente transformadas, ocupadas e, neste caso, a natureza deixa de ser elemento vinculado a qualidade de vida, harmonia e beleza, associando-se a uma série de problemas como enchentes, deslizamentos e doenças. Costumo dizer que nestes casos, a natureza vira mato e que ações são implementadas para derrubar o mato, para esconder esta natureza, como por exemplo, ocorre com a canalização e tamponamento de canais fluviais. Ao invés de tratar e despoluir os rios e canais urbanos, ainda assistimos nas cidades brasileiras a opção mais fácil que é o encobrimento do problema, ou seja, empurramos a sujeira – o rio – para debaixo do tapete do asfalto.”

Os empreendimentos imobiliários, em contrapartida, esforçam-se em criar um conjunto de necessidades que vão desde o jardim e a vista até a vizinhança e a infraestrutura.  A vida harmônica com a natureza é na verdade um padrão pré-estabelecido no qual não cabem os problemas naturais mais comuns como “mosquitos, cheiros estranhos ou árvores que atrapalhem a vista” diz o pesquisador.

“Em função da raridade da presença de elementos da natureza nas cidades, especialmente nas grandes, os preços por estas ‘necessidades naturais’ torna-se cada vez mais alto e, portanto, o seu acesso será definido em função da renda, negando o uso coletivo da natureza, mas gerando altas expectativas de lucro. Desta forma, estes espaços remanescentes de natureza são disputados pelos grandes incorporadores, loteados e edificados, reduzindo, é claro a presença da natureza no local, que em muitos casos permanece apenas no nome do empreendimento.” Explica, no texto já citado.

Para o professor, o aumento significativo do crédito imobiliário, que é resultado de uma mudança na política econômica no governo Lula, deve chamar a atenção à necessidade de uma mudança nos padrões construtivos “adensando áreas já construídas ou focando este crédito imobiliário na aquisição de imóveis usados”.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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Um comentário a Venda da natureza pelo mercado imobiliário é tema de estudo

  1. Vânia Lima disse:

    Excelente visão da magnitude do problema que nós- soteropolitanos – estamos vivendo com a epidemia dos edifícios da paralela.

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