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Atualizado em 17 DE setembro DE 2014 ás 17:36

Desertificação na Bahia é tema do Café Científico

Em sua centésima edição, o evento discutiu as principais causas e desafios dessa catástrofe ambiental

MATHEUS VIANNA*
matheus.vianna95@gmail.com

Na última sexta-feira (12), ocorreu na Biblioteca Pública do Estado da Bahia a centésima edição do Café Científico, coordenado pelo programa de Pós-Graduação em História das Ciências, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O tema desta edição foi “A Desertificação na Bahia”, contando com palestra do pesquisador Washington Rocha, da UEFS. O processo se caracteriza como a perda de solos agricultáveis devido às condições climáticas de certos locais aliadas à má utilização desses solos pelos agricultores. A principal região do Brasil que encontra diversas áreas vulneráveis é a região Nordeste, incluindo, portanto, o estado da Bahia.

O tema da desertificação começou a entrar em discussão nos órgãos globais a partir da criação Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação, em 1977. A conferência foi motivada devido às grandes secas que começaram a acontecer na África, como a grande seca do Sahel (1967 – 1970), região localizada logo abaixo do deserto do Saara. Apesar das discussões, diretrizes e metas só foram traçadas na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação nos Países afetados por Seca Grave e/ou Desertificação (UNCCD), realizada na Rio 92. “A UNCCD trouxe dados alarmantes em 2007, que mostram que a desertificação atinge 40% das terras emersas e que tais áreas afetadas abrigam 42% da população mundial, cerca de 2,6 bilhões de pessoas”, revela o professor Washington Rocha.

As principais causas para o início de um processo de desertificação são as ações humanas em áreas mais secas, como o extrativismo mineral e vegetal, desmatamento e queimadas, pastoreio e o uso intensivo do solo, que provoca a salinização do solo. “A soma das condições climáticas desfavoráveis e o mal uso daquele local resulta no processo de desertificação, que a longo prazo vai acabar reduzindo bastante a produtividade econômica e a complexidade natural desses ecossistemas”, resume Rocha. Ainda segundo o pesquisador, a desertificação, por não ter muitos efeitos imediatos, pode se tornar “invisível”. “É uma catástrofe diferente de uma enchente ou um terremoto, os efeitos são a longo prazo”, alerta o professor.

Foto: Matheus Vianna

Regiões vulneráveis

A partir das discussões e metas dos órgãos globais, o Brasil criou em 2005 o Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação, o PAN Brasil. Com a criação deste plano, começaram os mapeamentos das regiões brasileiras mais vulneráveis.O levantamento mostrou que a região Nordeste (bioma caatinga) e o norte de Minas Gerais, concentram grande parte das áreas vulneráveis no país. Apesar do PAN Brasil estabelecer que todo estado tem que elaborar um plano estadual, a Bahia ainda não tem um Plano. Mesmo assim, pesquisas já foram feitas pelo Plano Nacional para delimitação das principais áreas vulneráveis no estado e foram divididas quatro regiões: a microrregião de Jeremoabo e Rodelas, a microrregião de Juazeiro, a microrregião de Irecê e a microrregião de Guanambi. “Segundo dados de 2007 do extinto Instituto de Gestão das águas e Clima (INGA), essas quatro microrregiões correspondem por 52 municípios e cerca de 1,5 milhão de pessoas”, relata o professor.

O grupo de pesquisa do palestrante realizou um estudo centrado somente no município de Jeremoabo, tentando estabelecer em mapas e gráficos a realidade de desertificação que ocorre no local. “A principal dificuldade foi estabelecer os critérios de classificação utilizados para esta área pequena, o que resultou num modelo que não retratou a realidade e por fim um segundo modelo mais adequado a uma pesquisa em cima da área de apenas um município”, relata Washington Rocha.

Os mapas gerados demonstraram a situação de grave erosão do solo em certas áreas do município e a real necessidade de elaboração do Plano Estadual do Combate á Desertificação. “Com o plano, existiriam equipes que visitassem as áreas vulneráveis para mobilizar a população, para combater ou compensar os efeitos naqueles locais”, afirma o pesquisador. Por fim, o professor Washington Rocha destacou o principal desafio da nossa sociedade atual: promover o desenvolvimento socioeconômico sem causar danos irreversíveis ao meio ambiente, como o processo de desertificação.

*Graduando no curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura da UFBA

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