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Atualizado em 14 DE dezembro DE 2017 ás 15:05

Cerca de mil homens perdem o pênis por ano no Brasil

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, a falta de higiene pessoal é o principal fator de câncer de pênis no país. Em segundo lugar está a contaminação pelo papilomavírus humano (HPV)

POR AMANDA MARIA DULTRA*
amandadultra@hotmail.com

Água e sabão são os elementos essenciais para a manutenção da higiene pessoal básica, além de fundamentais para evitar doenças. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, por ano, cerca de mil homens perdem o pênis por não terem esses hábitos. O câncer peniano é uma doença rara em todo mundo e, no Brasil, atinge 5% dos brasileiros com mais de 50 anos.

A doença, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), atinge principalmente pessoas pobres, analfabetas ou baixa escolaridade e sem acesso a saneamento básico. A neoplasia, ou desenvolvimento desordenado de células, entretanto nem sempre se manifesta no paciente e somente um exame atento pode indicar sua presença.

Além da falta de higiene, um outro fator que pode levar ao câncer de pênis, segundo informações do Ministério da Saúde (MS), é o papilomavírus humano (HPV). A esse vírus estão associados o câncer de cabeça, de garganta, de ânus e o câncer do colo do útero (em mulheres).

Prevenção - De acordo com o chefe de Urologia da clínica Santa Helena, Aide Queiroz Lisboa, a maneira mais eficaz de evitar o desenvolvimento do câncer de pênis e prevenir é “realizar postectomia (ou circuncisão) na infância, boa higienização e vacinar contra o HPV”. Parece uma coisa descomplicada, mas muitos homens abrem mão de fazer ou fazem de forma insuficiente: uma simples limpeza já evita o acúmulo de esmegma, líquido lubrificante de cheiro forte das genitais masculinas e femininas e que favorece o desenvolvimento do carcinoma. Em decorrência disso, verrugas e feridas indolores podem se manifestar no pênis.

Créditos: Banco de Imagens [Pinterest]

Método de prevenção mais indicado

“Não faço muito, acho. Dois banhos ao dia; lavo com cuidado; aparo os pêlos. E é isso.” Essa foi a resposta de Gabriel Burmeister, estudante de Marketing e Propaganda na ESPM, quando foi perguntado sobre sua higiene pessoal. Pode parecer simples a sua rotina, porém, segundo especialistas, não está muito distante do suficiente para prevenir essa doença.

Uma das explicações para o crescimento dos casos de câncer de pênis, atrelado ao mau hábito de higiene, é o fator cultural: homens cuidam menos da saúde, vão menos ao médico e também são mais descuidados com a limpeza íntima. Dados da última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicada em 2013, mostrou que os homens estão menos inclinados a se consultar com profissionais de saúde do que o sexo oposto: 63,9% contra 78% das mulheres. Dados da publicação Brasil Saúde, também de 2013, divulgada pelo MS, a taxa de mortalidade geral masculina é 1,6 vezes maior que a feminina.

A atenção imediata a qualquer alteração no órgão pode fazer a diferença. Segundo o médico Luciano Alves, membro da Sociedade Brasileira de Urologia, no vídeo sobre essa mazela, “qualquer ferida no pênis com mais de duas semanas de evolução deve ser investigada e essa investigação deve ser feita pelo urologista.”

Consequências – Infelizmente, graças à natureza agressiva da neoplasia, o tratamento tende a ter um caráter de mutilação. Segundo o doutor Lisboa: “A maioria dos cânceres de pênis são tratados com penectomia (remoção cirúrgica do membro) parcial ou total. Contudo, as lesões pequenas e iniciais e superficiais podem ser tratadas com ressecção local, retirada do prepúcio (pele que recobre a extremidade do pênis, a glande) ou com o uso de laser.”

Os efeitos nos pacientes são extremamente arrebatadores. No estudo publicado em setembro de 2011, Câncer de Pênis: Sentimentos e Percepções de Pacientes Diagnosticados para Amputação, seis indivíduos anônimos afetados entre a idade dos 40 aos 70 anos foram acompanhados por quatro meses e tiveram seus depoimentos coletados. Em muitos desses relatos, o sentimento de desespero estava presente.

“Receber a notícia dessa doença foi muito ruim. Eu não acreditava e perguntava por que comigo? Como pode alguém que nunca matou nem uma mosca ter uma coisa assim. Eu queria morrer depois que eu compreendi que era realmente uma coisa grave e que eu ia ficar sem… [choro intenso] meu… pênis. Eu não sabia nada sobre esse câncer só ouvia falar em câncer de próstata, mas esse danado de câncer que deixa o homem ficar sem ser mais homem, esse… eu fui sorteado com coisa ruim.”

A penectomia simbolizava toda uma mudança no modo de viver – uma castração do próprio caráter do paciente. Nos termos da pesquisadora, Ana Teresa Torres Teles, “perder uma parte do corpo é ter alterada toda sua existência, é viver uma incompletude que traz consigo uma série de alterações no existir do indivíduo.”

* Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

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