Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 23 DE março DE 2020 ás 17:22

Ai de nós se não fossem os jornalistas…

Qual a importância da informação jornalistica e dos jornalista na atual crise gerada pela pandemia do coronavírus? A jornalista e professora universitária Joana Brandão apresenta uma importante reflexão sobre o lugar dos produtores de informações no momento atual

POR JOANA BRANDÃO*
joanabrandao@hotmail.com

Trancados em casa até uma milagre chegar. Ou alguém descobrir uma vacina, um remédio. Será que dessa vez vamos reconhecer o valor de investir em ciência?

Tempos de pandemia. As pessoas reconhecem o trabalho essencial que salva vidas dos médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros, trabalhadores de mercearias,farmacêuticos. Será que esquecemos alguém nesta lista?

Quem é que garante que o pronunciamento do presidente seja transmitido ao vivo em rede nacional? Quem é que faz chegar ao cidadão a última medida do Ministério da Saúde e da Economia, do governo do estado e do município? Quem nos faz saber como está a situação na Itália, que a China está sem transmissão local, que na Coréia do Sul houve pouca contaminação devido à severidade do isolamento social? Quem atualiza as estatísticas a cada turno, a cada hora na Itália, em Espanha,no Japão? Quem pesquisou, descobriu, averiguou, entrevistou, para que pudéssemos confiar que o Brasil fez mapeamento genético do vírus, ou que a vacina está sendo testada nos EUA e na China, ou que o ibuprofeno agrava a doença e não deve ser usado? Quem informa que uma comerciante foi presa por alta abusiva de preços prevenindo que outros comerciantes façam o mesmo? Imagine o mundo agora sem as notícias?

Jornalistas estão se apinhando em redações correndo contra o tempo, sem isolamento social, para tentar saber a última pesquisa, a última descoberta, a melhor forma de prevenção, a melhor rota de fuga para que a população não seja levada pelo caos da desinformação e das especulações infundadas.

Eu me formei na faculdade de jornalismo há quase duas décadas sem fazer nenhum juramento. Meu pai, médico bem juramentado que é, ficou abismado em alguém adquirir um diploma em uma universidade federal sem firmar expressamente um compromisso ético. Eu, com meus vinte e pouquinhos anos, lhe disse: – Jornalistas são assim, questionam o status quo.

Hoje vejo esses médicos indo encarar o vírus com máscara de centímetros no rosto e sabão para as mãos e fico pensando no valor de um juramento. Se eu trabalhasse em um jornal nesses tempos de coronavírus, eu ia inventar um. Cada vez que segurasse um microfone que foi usado por um colega que foi na rua entrevistar o comerciante, o transeunte, que deu um pulinho no hospital para ver a falta de leitos,eu ia inventar um juramento. Colocaria ética, democracia, cidadania, se brincar até Jesus e os pobres na bendita da sentença.

O jornalismo é marcado pela atualidade. Em um momento de crise, as notícias precisam ser mais velozes, o que demanda mais trabalho, mais estresse. As empresas jornalísticas são empresas e os jornalistas funcionários, funcionários que não podem parar. Ao mesmo tempo, jornalistas são heróis borralheiros, correm contra o tempo, se sacrificam para salvar alguma vida, seja a de um cidadão que desconhecem que pode vir a se beneficiar de uma política pública, receber uma tendimento depois de uma denúncia, ou seja a vida da democracia mesmo. Como os soldados e médicos, o jornalista sempre esteve nos campos de batalhas. E ganham pouco por isso.

A audiência da televisão estourou nos últimos dias. As pessoas precisam de algo para confiar. Não dá para viver de memes, correntes, áudios, links, pdfs, vídeos de médicos, e não sei mais quem, todos muito bem intencionados. A gente até ouve,mas confiar mesmo é outra coisa. Aqui onde moro circulou uma mensagem supostamente assinada por forças policiais e de segurança unidas para impedir as pessoas de irem a rua. Era um passe livre para repressão. Denunciaram como fake news. Mas quem criou e com qual intuito? O que seria de nós se estivéssemos nas mãos de correntes de WhatsApp?

Globo liberou jornalistas acima de 60 ano para home office. Em home ou em office,o jornalismo não pode parar. Nem as bancas de jornais vão fechar com o decreto em São Paulo para fechar comércios que não sejam essenciais. O jornalismo é essencial.

Para aqueles que duvidavam da sobrevivência do jornalismo à internet e ao mundo das redes sociais e whatsapp, aí está a resposta. É neste momento de caos que surge a oportunidade de mostrar que as informações apuradas, verificadas,institucionalizadas são um baluarte essencial das sociedades contemporâneas. Enquanto houver vida, haverá jornalistas.

Foto: Arquivo pessoal

*Joana Brandão é jornalista, cineasta e educadora. Sempre sonhou em vivenciar um momento histórico importante para humanidade. Só não pensou que seria agora e trancada na própria casa. Escreve a coluna “Cronicas do fim do mundo” para a Ciência e Cultura sobre implicações sociais e culturais da pandemia global pelo Covid-19.

2 comentários para Ai de nós se não fossem os jornalistas…

  1. Vera Martins disse:

    Que bacana Joana , esse seu pensamento , é pensar como raiz. Hoje as pessoas vivem numa bolha ilusória .Não sabem da importância dos trabalhos que foram feitos e que são enraizados . Trabalho de verdadeiro valor . Parabéns.

  2. Gleide Machado disse:

    Fiquei fã. Parabéns

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *