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Atualizado em 15 DE dezembro DE 2016 ás 21:40

Renata Britto

No outubro rosa, um tumor tão importante quanto o câncer de mama precisa ser discutido. O câncer de útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina e, de acordo com os dados do INCA, fica atrás do câncer de mama e do colorretal, além de ser a quarta maior causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Confira a entrevista realizada com Renata Britto, médica, ginecologista, professora de Saúde da Mulher do curso de Medicina da UNIFACS e da Pós-Graduação em Medicina e Saúde pela UFBA

RAFAELA SOUZA E VICTOR FONSECA*
rafaelasouzaper@gmail.com / victorf.santos95@gmail.com

Ciência e Cultura: O que é o câncer de útero? Quais são os tipos?

Renata Britto: O útero é composto basicamente por duas partes, o colo e o corpo. O câncer mais prevalente na Bahia é do colo do útero, do tipo escamocelular, aquele que pode ser prevenido através do diagnóstico precoce das lesões precursoras, feito através do exame preventivo ou Papanicolau. Além desse Câncer, existe o adenocarcinoma do colo do útero e câncer de endométrio, esses mais frequentes em mulheres após a menopausa, acima dos 50 anos.

Ciência e Cultura: De acordo, com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Em 2013, 5.430 mulheres morreram no país, vítimas da doença. Em 2016, as estimativas para novos casos são altas, cerca de 16.340. Por que isso acontece? Quais são as formas de diagnóstico?

Renata Britto: Infelizmente esses números são alarmantes, principalmente por se tratar de uma doença que pode ser prevenida, quando diagnosticado pelo preventivo. A forma mais simples e barata de diagnóstico é através de alterações identificadas no exame do preventivo. A doença é bastante lenta, entre uma lesão precursora, e um câncer invasivo são necessários mais de dez anos sem que a paciente faça nenhum preventivo. Por isso é tão importante que este exame seja feito por todas as mulheres entre 25 anos e 64 anos, a cada três anos. No Brasil e na Bahia, a maioria das mulheres com Câncer nunca fizeram preventivo, exame que não é facilmente disponibilizando na rede pública em municípios mais distantes dos grandes centros ou na zona rural do estado.

Ciência e Cultura: Como a senhora vê a posição do sistema público de saúde diante essa situação alarmante?

Renata Britto: O investimento em oferecer o exame deveria ser maior, uma vez que a doença invasora é muito grave, com altos índices de mortalidade, elevado custo emocional e financeiro para estas pacientes.

Ciência e Cultura: Quais são as principais causas dessa doença?

Renata Britto: O câncer de colo tem uma forte associação com a infecção pelo HPV, vírus de distribuição mundial, que infecta mais de 60% da população. Apesar de tão comum, uma minoria das mulheres que se infectam pelo HPV terá câncer de colo de útero.

Ciência e Cultura: Como pode ser feita a prevenção? Quais são os cuidados que as mulheres podem tomar?

Renata Britto: A prevenção é feita com uma exposição menor ao risco de contaminação pelo vírus. O início da vida sexual mais tarde, redução do número de parceiros sexuais e uso de preservativos seriam formas de reduzir este risco. Mas é importante que as mulheres saibam que mesmo assim podem se contaminar e mais importante do que ter o vírus é fazer o exame preventivo que pode diagnosticar as lesões precursoras e tratá-las.

Ciência e Cultura: Quais são as formas de tratamento do câncer de útero?

Renata Britto: As lesões precursoras, convencidas com NICs, podem ser tratadas através de procedimentos simples feitos em unidades de referência, como o CICAN e HUPES, em Salvador, com cura na grande maioria dos casos. O câncer invasor tem um tratamento muito mais complexo, com cirurgia, químio e radioterapia a depender do grau de invasão do câncer.

Ciência e Cultura: Como fica a qualidade de vida da mulher após o diagnóstico e após a cura do câncer de útero?

Renata Britto: As mulheres com lesões pré neoplasias, antes do câncer invasor, tratadas e curadas terão uma vida absolutamente normal, poderão engravidar, ter filhos e uma vida sexual normal.  As mulheres com câncer invasor poderiam, após o tratamento, ter sequelas devido a cirurgia, quimioterapia e radioterapia, mas a maioria também terá uma vida normal. Alguns graus de câncer invasor também permitem que a paciente tenha filhos, se ainda não tiver a prole constituída, situação que pode ser discutida entre médicos e paciente em doenças na fase mais inicial.

Ciência e Cultura: Quando a histerectomia é indicada?

Renata Britto: Quando existe uma lesão precursora que não responde ao tratamento conservador, o que é raro. Ou quando a paciente tem um câncer invasor inicial e já tem a prole constituída, não tem mais desejo de engravidar, e quando o câncer já está em fases mais avançadas.

Ciência e Cultura: O maior índice de casos do câncer de útero ficou registrado na região do Amazonas (37 casos a cada 100 mil mulheres). O HPV é responsável por 70% dos casos. Diante disso, como se dá essa infecção?

Renata Britto: A infecção é, na maioria das vezes, por via sexual. Existem ainda casos de transmissão da mãe para o filho durante a gravidez.

Ciência e Cultura: O HPV pode causar maiores problemas nos homens como causa nas mulheres?

Renata Britto: Dificilmente o homem tem lesões causadas pelo HPV, a maioria dos problemas é totalmente assintomáticos.

Ciência e Cultura: Qual a importância da prevenção do HPV?

Renata Britto: O HPV é o grande responsável pelo câncer de colo de útero, portanto sua prevenção muda completamente a ocorrência desta neoplasia.

Ciência e Cultura: A vacina é uma ferramenta interessante de prevenção. Quais são as vacinas disponíveis e qual a importância de vacinar não só as meninas, mas também os meninos?

Renata Britto: Existem dois tipos de vacinas, uma combinação de dois vírus, causadores da neoplasia, e uma segunda opção com quatro tipos de vírus, além dos causadores do câncer, dois tipos que também podem causar uma lesão verrugosa na genitália, o condiloma. As meninas são o público alvo da prevenção com a vacina, mas os meninos também devem ser vacinados para reduzir a circulação do vírus na população. No Brasil, o governo oferece a vacina para meninas de 9 a 13 anos e, atualmente, também para meninos, o que é uma importante forma de prevenção da doença.

*Estudantes da graduação em Comunicação Social – Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba.

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