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Atualizado em 28 DE fevereiro DE 2013 ás 15:02

Maria da Conceição Chagas de Almeida

Temas como prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce eram polêmicos e havia poucas respostas para os problemas relacionados a estes assuntos. Com o maior esclarecimento da sociedade, o Brasil ao longo do tempo passou a lidar melhor com essas questões. Por isso, fomos entrevistar a pesquisadora Maria da Conceição das Chagas de Almeida que vem acompanhando o processo de conscientização da sociedade brasileira, principalmente de jovens e adolescentes, quanto ao uso de métodos anticoncepcionais. Ela nos ajuda compreender a atual situação da sociedade ao lidar com estes casos.

LUKAS BARBOSA MATOS*
lukastrezentos@gmail.com

Ciência e Cultura – Como solucionar a diferença de conhecimento dos Métodos Contraceptivos entre homens e mulheres detectada na sua pesquisa de 2003?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida – Naquela época, de fato, adolescentes do sexo masculino referiram menor conhecimento sobre contracepção, quando questionados sobre outros métodos que não fosse a camisinha.  Acredito que a escola, além da família, seja a instituição capaz de sanar essas diferenças. Na pesquisa GRAVAD realizada em 2002 em três capitais brasileiras, os pais e a escola apareceram como principal fonte de informação sobre gravidez e métodos contraceptivos tanto para os rapazes quanto para as moças.  Contudo, observamos que é preciso estimular os rapazes a negociarem uso dos métodos com suas parceiras, e para isso é necessário que a escola como instituição transmissora de conhecimento, prepare os seus educadores para a formação dos jovens desnaturalizando os estereótipos de gênero. É preciso consciência de que a contracepção não é de responsabilidade “exclusiva” das mulheres.

Ciência e Cultura – Quais as consequências da existência de uma idade de iniciação sexual tão baixa na prevenção de gravidez indesejada e DST’s?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida - No Brasil, assim como em outros países, a idade de iniciação sexual é mais baixa entre os rapazes que entre as moças.  Eles iniciam-se de um modo geral com idade entre 15 e 17 anos e elas um pouco mais tarde.  A primeira relação sexual de modo geral para as mulheres se dá em um contexto de um relacionamento estável e para os homens tem o caráter de experimentação e afirmação da masculinidade não envolvendo necessariamente um compromisso.  A iniciação sexual mais precoce aumenta o tempo de exposição a uma gravidez não planejada e DST´s  e para que a gravidez não ocorra, é importante a conversa entre os parceiros  sobre o uso de métodos. O que acontece é que no contexto de um relacionamento estável, a tendência entre os casais é relaxar o uso de MAC.

Ciência e Cultura – O quanto as campanhas em prol do uso das MAC’s têm de êxito para a mudança do comportamento sexual dos jovens de hoje?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida – Nos últimos anos houve inúmeras campanhas publicitárias de prevenção às DST/AIDS promovidas pelo Ministério da Saúde. Os dados da pesquisa com escolares assim como os da pesquisa GRAVAD indicam que cerca de 90% dos jovens conhecem a camisinha como método contraceptivo ou como para prevenção às DST’s. Ainda assim o que observamos que poucos fazem uso da camisinha em todas as relações sexuais. É preciso destacar que ainda permanece a dificuldade de acesso aos métodos, principalmente entre jovens de classes menos favorecidas.

Ciência e Cultura – Como tem sido o papel que a família tem desempenhado para a prevenção de DST’s?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida – O papel da família está diretamente ligado o nível social. Na pesquisa GRAVAD observamos que entre os jovens das classes mais privilegiadas a família é a principal fonte de informação sobre DST’s/Aids, com destaque para as mães. Os rapazes e moças de segmentos populares referiram à escola e a televisão em primeiro lugar. É importante destacar que adolescentes de classes populares quando conseguem ultrapassar a escolaridade materna tendem a se proteger mais, portanto engravidar menos.

Ciência e Cultura – Quais são as diferenças na consciência sobre o uso dos MAC’s entre adolescentes que estudam na rede pública de ensino e os da particular?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida – Na pesquisa com escolares só entrevistamos adolescentes de escolas públicas, portanto não tive como compará-los.  Entretanto, espera-se que jovens de escolas particulares estejam mais sensibilizados quanto ao uso de métodos, levando em conta que esses estudantes são, de um modo geral, de classes mais privilegiadas e, como já foi dito anteriormente, soma-se ao papel da escola como fonte de informação a família.

Ciência e Cultura – Como é a assistência do governo às adolescentes que engravidaram? É satisfatório?

Maria da Conceição das Chagas de Almeida – Eu não tenho informações precisas sobre a assistência do governo às adolescentes que engravidam. Sabemos que ainda existe um “certo preconceito” por parte de profissionais das maternidades públicas no atendimento às jovens, principalmente se elas chegam as unidades em condições de abortamento. Os serviços de saúde precisam estar preparados para atender as adolescentes no que diz respeito às escolhas e uso de contraceptivos, assegurando-lhes, sobretudo o acesso aos métodos. É necessário também que os rapazes estejam incluídos na atenção à saúde reprodutiva, integrando a proteção à gravidez não planejada e a prevenção às DST’s. É preciso garantir acolhimento no caso de gravidez confirmada o que implica assistência pré-natal e parto e também a atenção humana e de qualidade para aqueles que decidirem interromper a gravidez.

*Lukas Barbosa é estudante de Comunicação-Jornalismo da Facom-UFBA.

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