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Atualizado em 26 DE setembro DE 2011 ás 14:09

Marcos Nogueira

A Bahia será sede do 29º Congresso Brasileiro de Zoologia, programado para o período de 05 a 09 de março de 2012, no Centro de Convenções, em Salvador. Na programação do congresso, serão realizados 29 mini-cursos sobre temas diversos da zoologia. O ambiente marinho estará em foco com o curso “Interações faunísticas em ambientes recifais: uma abordagem prática para o estudo da carcinofauna”, ministrado pelo pesquisador Marcos Moura Nogueira. Nesta entrevista, ele e sua equipe, formada pelas mestrandas Natália Matos de Menezes e Roberta Canário, todos da Ufba, falam sobre carcinofauna

Por Liliana Peixinho
lilianapeixinho@gmail.com

Ciência e Cultura – O curso de Jornalismo Científico e Tecnológico da Facom-Ufba tem, entre seus objetivos, a potencialização da informação cientÍfica como instrumento de poder e transformação social. Como o senhor percebe a relação entre produção científica e acesso/divulgação das descobertas e seu apoderamento social?

Marcos Nogueira – A maior parte das informações científicas é divulgada em periódicos (nacionais e internacionais) o que limita o seu acesso à comunidade acadêmica. São poucos os grupos de pesquisa que se preocupam com a popularização da ciência, e promovem a divulgação de suas pesquisas para a população geral. Algumas iniciativas, como as das revistas Scientific American, Ciência Hoje e Super Interessante, dentre outras, tornam acessíveis importantes inovações científicas, porém ainda restringem o público alvo, pois os leitores destas fontes necessitam ter um entendimento mínimo da disciplina (seja ela pertencente a qualquer área do conhecimento) para que compreendam as reportagens. Assim, os grupos científicos deveriam investir em programas de extensão voltados às primeiras séries do ensino a fim de tornar o mundo acadêmico/científico natural às crianças (a comunidade do amanhã), ampliando a sua educação para além das ‘paredes’ da escola, formando adultos críticos e conscientes. Afinal conhecimento é poder!

Ciência e Cultura – Onde, em que territórios geográficos, ambientes, comunidades, têm sido o foco de suas pesquisas e que diagnóstico apresenta nas coletas analisadas?

Marcos Nogueira – Nosso grupo de pesquisa, liderado pelo Prof. Dr. Rodrigo Johnsson e pela Prof. Dra. Elizabeth Neves, tem atuado, principalmente, ao longo do litoral baiano, em localidades que incluem áreas de estuários (onde encontramos impacto de fazendas de camarão) e recifes, onde os nossos dados contribuirão para a conservação e monitoramento dos ambientes marinhos, que é se suma importâncias para as comunidades litorâneas. As principais linhas de pesquisa envolvem o estudo da fauna associada à importantes corais endêmicos (ou seja, que ocorrem somente no nosso litoral) e ao coral invasor (não natural da nossa costa) do gênero Tubastrea, que têm se expandido rapidamente no litoral sudeste, principalmente no Rio de Janeiro, e já está ocorrendo na Baía de Todos os Santos. A primeira parte dos resultados está em análise e serão divulgados no 29º CBZ.

Método do quadrado para mensurar a densidade da fauna aderida ao substrato

Ciência e Cultura- A comunidade tem acompanhado o trabalho de pesquisa?

Marcos Nogueira – Ainda não diretamente. Em 2010, o Laboratório de Invertebrados Marinhos, Crustacea, Cnidaria e Fauna Associada (Labimar), ao qual estamos ligados, participou do EcoSurf na ‘área ambiental’ onde também estavam stands da Petrobrás e de organizações de reciclagem, com o objetivo de divulgar as linhas de pesquisa do laboratório para crianças de escolas públicas de Salvador. Além disso, os resultados provenientes dos nossos trabalhos serão de grande importância para fornecer informações para conservação e riqueza dos recifes de corais em comunidades locais.

Coleta com auxílio de martelo e ponteira

Ciência e Cultura- Qual a caracterização dos ambientes recifais pesquisados por sua equipe? Há projeções de riscos e ações mitigadoras?

Marcos Nogueira - Os recifes de corais são ambientes que apresentam alta produtividade, servindo como área de refúgio e alimentação para diversos organismos, a exemplo: tartarugas, peixes, tubarões, etc. Nossos trabalhos fornecerão o conhecimento acerca da diversidade de crustáceos, e outros invertebrados, constituintes da fauna associada aos corais (construtores da estrutura recifal) dando subsídio para as iniciativas conservacionistas e para ações mitigadoras. Pois é necessário conhecer a fauna para conservá-la!

Ciência e Cultura- Quais os métodos de coleta utilizados para a identificação da carcinofauna?

Marcos Nogueira - Fazemos a coleta dos corais com auxílio de martelo e ponteira, que são acondicionados em sacolas plásticas e transportados ao laboratório para a remoção da fauna associada. Os crustáceos associados são identificados ao menor nível taxonômico possível.

Coleta do coral mole com auxílio de espátula

Ciência e Cultura – Que interferências externas, da ação humana, esses ambientes marinhos têm sofrido?

Marcos Nogueira – São inúmeros os impactos. Dentre eles, podemos citar: pesca com bomba, bioinvasão, eutrofização, coleta indiscriminada de espécies para aquarismo e ornamentação, destruição por pisoteamento.

Ciência e Cultura – As interações ecológicas em recifes de coral sofrem ameaças. O que podemos fazer?

Marcos Nogueira – A saúde dos recifes de coral envolve a fina regulação das interações entre as espécies. Assim, o conhecimento sobre as espécies constituintes do sistema recifal e a natureza das relações que elas desenvolvem é de fundamental importância para a manutenção dos recifes. Para que ações imediatas de manejo e conservação sejam efetivas é necessário o desenvolvimento de pesquisas para verificar os impactos e a diversidade possivelmente ameaçada destes ambientes, além da educação e conscientização das comunidades, para evitar a coleta dos organismos recifais, pesca excessiva, pisoteio dos recifes, utilização do mar como lixeira, enfim, tornar as pessoas conscientes da necessidade de conservação dos nossos recifes.

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Links úteis

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