Mesmo sendo um procedimento essencial, a cesárea causa 3,5 mais mortes do que o parto normal.
JANE EVANGELISTA*
janeevangelista@gmail.com
Em 2010, o número de cesarianas no Brasil foi 52% maior que o número de partos normais. A rede privada foi a que mais realizou este tipo de cirurgia (82%), enquanto a rede pública realizou 37%. O número de cesáreas no país está acima do preconizado pela OMS, 15% dos partos. O uso abusivo deste procedimento sem as devidas indicações médicas se revela um fator de morbi-mortalidade materna e perinatal. A morte materna por cesariana é 3,5 vezes maior do que no parto normal.
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“A cesariana não é um parto, é uma cirurgia. E só se deve fazer uma cirurgia em situações que forem necessárias, indicadas. E a indicação tem que ser médica, não tem que ser por medo de sentir dor no parto e nem por comodidade do médico, que é o que tem acontecido muito.” Afirma Carmo.
A falta de informação ou informações equivocadas sobre o parto normal levam mulheres a optarem pela cesárea. Os benefícios do parto normal como, por exemplo, sua melhor recuperação e a consolidação do vínculo entre a mãe e seu bebê, ainda são desconhecidos por parte importante das mulheres. Além disso, as parturientes são influenciadas pelos obstetras que, por comodidade, na maioria das vezes preferem realizar uma cesárea- mais rápida e programada- que um parto normal, que requer mais tempo, paciência e não é programado.
“Os motivos são numerosos e muito complexos. Existem fatores culturais: ao longo dos anos as mulheres foram bombardeadas com o conceito do parto como sofrimento, logo a cesárea viria com alternativa para este sofrimento. A sociedade atual é imediatista- o parto normal requer paciência, espera. Os obstetras sofrem com o excesso de trabalho em diversos lugares, sem dispor do tempo necessário para aguardar o trabalho de parto” declara Pereira.
No entanto, a cesariana é essencial e salva inúmeras vidas, de mães e de bebês. Esse procedimento é extremamente necessário em alguns casos. É recomendado sempre que houver desproporção céfalo-pélvica (quando a cabeça do bebê é maior do que a passagem da mãe); hemorragias no final da gestação; ocorrência de doenças hipertensivas na mãe específicas da gravidez; bebê transverso (atravessado); e sofrimento fetal.
A medicalização do parto é uma experiência vivenciada pela maioria das brasileiras. No parto normal são feitas inúmeras intervenções desnecessárias e dolorosas, que a cesárea acaba sendo a única alternativa indolor. As intervenções facilitam o trabalho do obstetra, porém causam danos sérios aos neonatos e suas mães. A ocitocina, droga que tem a função de induzir o parto, está entre as 12 drogas que mais geram complicações médicas graves. O procedimento de amniotomia (rotura das membranas) é utilizada para acelerar o parto. E a episiotomia, exageradamente utilizada, é o corte da musculatura, tecidos eréteis, nervos e vasos da vulva e vagina.
*Jane Evangelista é jornalista e especialista em Jornalismo Científico pela UFBA.