Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 18 DE outubro DE 2017 ás 16:24

Descolonizar para humanizar

Evento discutiu a crescente onda de intolerância no mundo. Para as palestrantes, o questão não é recente e têm origem em processos colonizatórios

POR REBECA ALMEIDA*
rasrebeca@gmail.com

Intolerância e descolonização foram os principais temas discutidos na terceira mesa do seminário preparatório para o Fórum Social Mundial (FSM). O evento aconteceu nesta terça-feira, 17, e lotou o auditório Pavilhão de Aulas Glauber Rocha, antigo PAF III.

Mesa: A onda de intolerância e discriminações no Brasil e no Mundo / Foto: Rebeca Almeida

Para  Gilberto Leal, que coordenou o debate, a tradição do FSM  é “convergir lutas”  Essa afirmação foi importante para justificar a presença da ativista francesa e presidente da Fundação Frantz Fanon, Mireille Fanon; da representante do grupo Povos Tradicionais de Terreiro, Juliana Kitanji; da diretora de comunicação do ICArabe, Soraya Misleh; e da presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Maisa Bahia. As convidadas trataram de diferentes vivências e lutas sociais.

No Brasil, apesar da intolerância se mascarar de embate religioso, as verdadeiras motivações estão na colonização de um povo sobre outro. Ainda somos uma sociedade pautada na escravidão dos povos negros e indígenas. Isso foi ressaltado por Kitanji, que discursou sobre racismo e intolerância com as religiões de matriz africana. Para a ativista, é uma falácia pensar que já superamos o período colonial e que as ondas de intolerância são eventos recentes. “Eu acredito que não é falar sobre novas intolerâncias e sim de reconhecermos que há um processo de colonização. E que a democracia se prestou a continuar com esse projeto”, desabafa.

Uma colonização mascarada de religião também é o que ocorre contra os povos palestinos, segundo Soraya Misleh. Para a jornalista, o Sionismo foi é baseado em interesses econômicos e políticos. “A aliança imperialista têm interesses estratégicos na região. A Palestina é um meio de transporte entre a Europa e a Ásia. [O estado de Israel] é um projeto político, não têm nada haver com religião”, enfatizou.

Dessa forma, os problemas sociais do mundo começam com uma deformação do sentido de humanidade, a partir da colonização dos continentes africano e americano, segundo a ativista pelos direitos humanos, Mireille Fanon. Ela definiu a colonização como “uma catástrofe metafísica que faz parte do cerne da modernidade e das ciências européias modernas”. A ativista acredita que para pensar uma nova ordem mundial, o FSM deve se confrontar com essa realidade. “Um outro mundo não é possível se aquilo que foi destruído pela escravidão, o senso de humanidade, não for refletido, reparado e devolvido para aqueles de quem foi roubado”, concluiu.

O seminário preparatório para o FSM está acontecendo paralelo ao Congresso da UFBA, com atividades previstas até hoje, 18. A conclusão do seminário está prevista para 15 horas com a mesa O papel do FSM na construção das convergências dos movimentos sociais do mundo, onde serão elaboradas propostas de ação para as questões levantadas nos debates anteriores.

Fórum Social Mundial (FSM) – Os debates ocorrendo na UFBA são uma prévia do fórum, que ocorrerá em 2018, entre os dias 13 a 17 de março. O evento mundial é itinerante e acontece anualmente desde 2001, esta será a primeira edição em Salvador. A origem do FSM é uma resposta ao Fórum Econômico Mundial e sua principal proposta é reunir movimentos sociais do mundo e elaborar alternativas para uma transformação social global. O slogan de edição 2018 do evento é: Resistir é criar. Resistir é transformar.

*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *