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Atualizado em 2 DE junho DE 2015 ás 21:30

Fome no ensino noturno é tema de pesquisa da UFBA

O colégio Ypiranga de Salvador foi o campo de estudo por dois meses. A fome, faltas de aula e violência inibem parte dos estudantes de continuar estudando

ALESSANDRA OLIVEIRA*
alessandraso.jornalismo@gmail.com

A “Fome do estudante noturno” foi tema da dissertação da pesquisadora da UFBA, Regiane Assunção Campos, em 2008. A pesquisa busca entender a situação de fome do estudante do ensino médio noturno no colégio estadual de Salvador, Ypiranga, e quais seus vários significados quando a necessidade de estudar supera a sensação física de fome. O estudo foi realizado no Programa de Pós-graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde.

O texto defende a discussão de políticas públicas de alimentação realmente adequadas à realidade escolar, através da análise da formação histórica da escola noturna e rotina dos alunos noturnos, em sua maioria, adultos trabalhadores que só tem essa opção de horário para estudar. Como consequência, há dificuldade de manter a frequência do aluno, em geral exaustos das tarefas do dia.

O Brasil ainda sofre muito com a fome, com dados estatísticos que variam, mas que sempre apontam para milhões de famintos no Brasil. O trabalho aponta que os estudos feitos no país sobre o tema tratam o assunto de forma técnica e reducionista aos distúrbios, sem reconhecer questões que ultrapassam a falta de ingestão alimentar.

As pesquisas apresenta que, historicamente, as escolas noturnas carecem de investimentos para um ensino de qualidade sendo, em geral, o último plano nas agendas do governo, conforme depoimentos colhidos. Em 30 anos, pelo menos 15 foram criadas por espontaneidade dos professores, que recebiam apenas uma pequena remuneração do governo.

As “várias fomes” – Professores e alunos chegam comumente atrasados e normalmente saem mais cedo devido ao horário de redução da frota do transporte coletivo; as aulas são repetitivas, com pouco conteúdo; a aprovação dos alunos que continuam viram estatísticas, mas não, necessariamente, refletem qualidade de ensino; o preço da comida é alto e significa parte dos já pequenos salários, que poderia ser revestido em materiais de estudo.

O que se observa em todos os casos é a perda no estudo para combater a fome. A fome agora entendida como problema que transpassa a necessidade fisiológica de comer, se relaciona com a fome de estudar, a fome dos professores de ensinar, a fome de melhorar de vida. Transpor as dificuldades e, muitas vezes, não ter aulas são desestimulantes, segundo observações do estudo.

Conclusão – Regiane concluiu que o modelo atual das escolas noturnas não atendem mais as necessidades dos estudantes, que desempenham trabalhos exaustivos e mal remunerados e tem que brigar na hora da aula com o sono, cansaço e fome. Eles criam expectativas não correspondidas em relação ao estudo, que seria a melhor saída para uma melhoria profissional. Percebem, então, que o ensino público não dialoga com o seu cotidiano, não responde suas dúvidas, nem corresponde às suas ansiedades.

A falta do professor, das aulas, dos colegas e da alimentação, não podem ser supridas apenas por uma política de alimentação escolar. Com esse estudo é possível que se tenha a oportunidade de discutir medidas que combatam a fome do estudante noturno, que não é só por comida.

*Graduanda no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e estagiária da Agência de Notícias em Ciência e Cultura

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