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Atualizado em 7 DE dezembro DE 2018 ás 16:29

Como pensa a Geração Z?

Tolerante, desapegada, ansiosa e depressiva. Imersa na hiperconectividade, a Geração Z navega o início da juventude e da vida adulta equilibrando as vantagens e desvantagens proporcionadas pelas novas tecnologias

POR ANA GENEROSO*
generoso.a.carolina@gmail.com

Os Baby Boomers (1946 -1964) nasceram em meio à euforia pós-guerra e a repressão do regime militar. Eles são a  geração da televisão. A Geração X (1965-1979) nasceu durante a Guerra Fria e consolidação do capitalismo no mundo. Eles são os jovens do computador pessoal. Os Millennials (1980-1994) nasceram junto à ascensão da globalização. Eles são a geração da internet.

Atualmente, um novo segmento da população mundial é foco dos estudos acadêmicos e pesquisas publicitárias. Nascidos após a comercialização da internet (1995-2012), a Geração Z ou iGen foi batizada pelos estudiosos como a geração do iPhone.

Em entrevista para o canal de Youtube da revista Time, Jonah Stillman, representante da Geração Z e co-autor do livro “Gen Z at work”, afirma: “Minha geração foi, de fato, nativa digital. Nós só conhecemos um mundo onde nossos celulares são inteligentes. Nós nos voltamos para a tecnologia para fazer muita coisa seja entretenimento, pesquisa ou educação. É parte de quem somos”.

No Brasil, atualmente, 30 milhões de jovens adultos, adolescentes e crianças configuram a Geração Z e, no mundo, ela representa 26% da população. Ela navega intuitivamente os smartphones e redes sociais. Indivíduos de um cotidiano permeado pela hiperconectividade, esses jovens consideram as tecnologias digitais como extensões de si. Elas moldam não só o modo como as crianças e adolescentes interagem entre si, mas também suas aspirações, senso de ética e hábitos de consumo.

A pesquisa da psicóloga Jean Twenge com jovens norte-americanos aponta que, em relação às gerações anteriores, a Geração Z dorme menos, adia o início da vida sexual e posterga a retirada da carteira de motorista. Pesquisas brasileiras, sobretudo as publicitárias, identificam mais características: os jovens possuem identidades fluídas, são mais tolerantes, mais realistas e defendem um estilo de consumo ético.

Preocupados com o meio ambiente e os direitos humanos, a Geração Z incentiva um mercado ético e sustentável. Os efeitos aparecem nas prateleiras onde cada vez mais produtos ostentam selos “verde” e cruelty free; nos últimos cinco anos, por exemplo, os cosméticos veganos cresceram 175% no mercado segundo a empresa de marketing global Mintel. Essa geração é também mais desapegada à posse material que as anteriores, sobretudo a de seus pais, Geração X, fenômeno que reflete no sucesso de plataformas de “aluguel digital” como Netflix, Spotify, Uber, Audible e Drive Now.

Geração iPhone: Em 2017, a psicóloga norte-americana Jean Twenge publicou o livro “iGen: Porque as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a idade adulta”. Ela explora as aspirações, moralidades e tendências impulsionadas pela juventude a qual batiza de “Geração iPhone” e no que elas implicam para a sociedade e mercado do futuro próximo.

A autora ressalta que é importante encarar as mudanças de geração para geração sem preconceito ou julgamento de valor, visto que elas refletem suas épocas e contextos. “Life history theory explicitamente nota que estratégias rápidas ou lentas de vida não são necessariamente boas ou ruins; apenas são”, diz Twenge no primeiro capítulo do seu livro.

Um dos pontos identificados por Twenge é que a Geração Z não tem “pressa para crescer”, fenômeno que ela analisa sob a ótica da life history theory. A teoria defende que a velocidade de amadurecimento é uma adaptação ao contexto cultural no qual os adolescentes estão inseridos. O tamanho das famílias, segundo a autora, tem influência significativa no amadurecimento das crianças.

Ela argumenta que em famílias menores segue-se uma “estratégia de vida lenta” na qual cada criança recebe atenção individualizada e uma educação longa e mais intensa. Como resultado, elas demoram mais para conquistar independência e liberdade, retardando o início da vida adulta. O oposto ocorre em famílias grandes, onde o foco é a subsistência e segue-se uma “estratégia de vida rápida”. Como os pais não tem tempo para cuidar de cada um, os filhos ganham autonomia mais cedo e tendem a iniciar a vida adulta precocemente.

Outro fator, abordado no livro, é o declínio exponencial da saúde mental das crianças e jovens da Geração Z comparado às gerações anteriores. Na última década, os casos de depressão em crianças de 6 a 12 anos, saltou de 4,5% para 8% no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em seus estudos, Twenge encontrou uma forte correlação entre a quantidade de horas olhando para as telas de tablets, computadores e smartphones e a incidência de depressão, ansiedade, solidão e suicídio entre os jovens.

A comparação excessiva com os padrões de beleza e consumo exaltados nas redes sociais prejudica a saúde mental da Geração Z, mas outro fenômeno acarretado pelas telas é a constante exposição às notícias de conflito no mundo. Independente do desastre acontecer no seu bairro ou no outro lado do mundo, os jovens terão acesso à cobertura extensiva e em tempo real. Segundo Jonah Stillman, jovem-empreendedor e co-autor do livro “Gen Z at work”, essas ocorrências passam a afetá-los pessoalmente e eles se sentem obrigados a ajudar e participar, logo a popularidade das hashtags de protesto e manifestações em redes sociais.

Melhor que tentar proibir o uso dos aparelhos, em seu livro, Twenge recomenda aos pais que limitem o acesso das crianças a no máximo uma hora por dia.

Imagem: Ana Generoso

Alô, alô? Os smartphones: Durante o XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, 2018, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) apresentaram uma curiosa descoberta: apesar de passarem horas no aparelho, os jovens brasileiros desprezam ligações telefônicas. Nesta pesquisa, intitulada “‘Não me ligue, mande mensagem’: Os novos hábitos da Geração Z ao telefone”, eles exploram a aversão a falar ao telefone e a telefonofobia, o culto à comunicação rápida, a habilidade de processar várias informações (multitasking) e doenças de postura ligadas ao uso dos aparelhos.

A pesquisa avisa: “Em tempos em que aplicativos de mensagens como Whatsapp e Telegram e redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter estão em alta, receber e fazer ligações virou uma atividade ultrapassada e, em alguns casos, até intrusiva, principalmente para os maiores usuários dos serviços acima”.

A Geração Z está engajada, ao mesmo tempo, em uma conversa no WhatsApp, rolando pelo Instagram, ouvindo música e assistindo TV; atividades que seus pais ou avós, por exemplo, não conseguem administrar simultaneamente. A pesquisa explica essa diferença: “[Eles] não precisaram se adaptar às novas tecnologias, como foi o caso da Geração X e Y, por exemplo, mas cresceram junto com elas e se aproveitaram dessa oportunidade para desenvolver habilidades, como a capacidade de executar multitarefas e de captar novos conteúdos mais rapidamente”.

As mensagens proporcionam ainda outro atrativo para os jovens segundo os pesquisadores: a possibilidade de distanciamento e preservação emocional. “O ambiente virtual é visto como uma espécie de porto seguro por essas pessoas, visto que lá a comunicação é, preferencialmente, por mensagem de texto e, assim, só deixamos transparecer os sentimentos se, de fato, quisermos”.

REFERÊNCIAS:

Os millennials, lamentamos informar, são coisa do passado

Imperativos da conduta juvenil: no século XXI: a “Geração Digital” na mídia impressa brasileira

A geração Z e o papel das tecnologias digitais na construção do pensamento

“Não me ligue, mande mensagem”: Os novos hábitos da Geração Z ao telefone

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

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