Economia Solidária é fortalecida no Recanto Peixinhos, tendo como objetivo o cultivo de espécies nativas da Caatinga e da biodiversidade local
POR LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com
O Recanto Peixinhos, na comunidade Barreira do Tubarão, município de Heliópolis, entende que a expressão “recaatingar” representa o compromisso com a necessidade de resgatar, recuperar, preservar, cuidar das espécies nativas ao bioma caatinga. Cientes do processo de desertificação, acelerado, com as práticas promovidas por sistemas econômicos como o do agronegócio, o Recanto Peixinho utiliza práticas que promovem o reflorestamento, ou Recaatingamento, como preferem conceituar.
A partir de um levantamento, minucioso, de espécies nativas da Caatinga e a cata de mudas e sementes em áreas que ainda não foram desertificadas, os agricultores utilizam técnicas de reintrodução de espécies, frutíferas ou não. Na área tem plantação de espécies como: pau de colher, caixão, araticum, mandacaru de boi e de facho, pau de sapo, jurema branca e preta, coração negro, mandioca brava, cajarana, mulugum, macambira, laranja brava, bandola, angico liso e de espinho, pregusoso, ipê rôxo e amarelo, tamboril, barriguda, quina-quina, umburana, saboneteira, licurizeiro, catingueira, entre outras.
Com isso a área do Recanto Peixinhos vem sendo recuperada e biodiversificada. Reapareceram inúmeras espécies animais como lagartos, cobras, corujas, macacos, colibris, entre outros, raros, como a ”Avó da Lua”. Esse ambiente biodiverso proporcionou a formação de uma cadeia harmoniosa de ponta a ponta e hoje os moradores fazem a coleta e o beneficiamento de frutas, raízes, folhas, legumes, hortaliças típicos da caatinga. Nesse cuidado com a riqueza nativa, a comunidade se beneficia com uma alimentação nutricionalmente rica, a partir do uso in natura, ou em sucos, geleias, bolos, mingaus, e receitas de pratos em culinária afetiva, funcional, na promoção do bem viver.
Culturas diversas – Junto com o recaatingamento, a plantação é voltada para a produção alimentar. Há todo um cuidado ao que já existia na época da chegada ao local e vem sendo plantado diariamente. Assim, pode-se ver na comunidade o aproveitamento integral da terra, em plantações diversas como umbu, manga, goiaba, abacate, acerola, pinha, mamão, cajá, caju, cana, laranja, limão, coco, romã e bananas de vários tipos (da terra, maçã, nanica, ouro) dentre dezenas de outros frutos. No mesmo ambiente, observa-se o cultivo de legumes, verduras, raízes e hortaliças: coentro, cebolinha, couve, alface, tomate -cereja, cenoura, maxixe, beterraba, quiabo, batata doce, mandioca (aipim), milho, feijão, dentre outras culturas que garantem o sustento comunitário.
A Economia Solidária se fortalece por meio de bancos de sementes crioulas, aproveitamento integral de resíduos orgânicos, redução da entrada de plásticos, alimentação funcional, afetiva, em compromisso de prevenção a doenças, através do uso da flora como matriz de princípios ativos para o combate aos males.
Não às solinhas plásticas: comunidade e Movimento AMA firma ações de desperdício zero - Recentemente, a comunidade firmou compromisso com o Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente na campanha Lixo Zero, Desperdício Zero, para fortalecer as práticas locais em princípios do consumo consciente, por meio da prática de Cultura dos “Rs”: Racionalizar, Reduzir, Repartir, Recusar, Reaproveitar, Reinventar, Recriar, desenvolvida pelo AMA.
O Movimento doou tecidos de cortinas velhas e forros de sofá para a comunidade reutilizar com reaproveitamento criativo. O AMA apresentou um modelo de sacolão reutilizável como referência útil na substituição das sacolas plásticas. A comunidade foi reunida, com todas as famílias, para discutir formato, tamanho, pintura, e sinalizar quem estaria disposto a produzir as sacolas. A artesã, Zélia, uma das filhas do casal Bento e Nice, é a referência comunitária em trabalhos de reaproveitamento de tecidos e outros materiais. Convidada a executar o conceito dado às sacolas permanentes, ela aceitou a tarefa de costurar e pintar as sacolas. A proposta é barrar a entrada das indesejáveis sacolinhas plásticas no ambiente.
Ao final dos trabalhos, cada família recebeu seu próprio sacolão permanente (com tamanho de 60 centímetros de altura, por 50 de largura, e 30 de fundo). Esse modelo comporta produtos pesados e grandes, em compras nas feiras e mercados de localidades vizinhas, de produtos que a comunidade local ainda não produz.
Jornalista, ativista, Especializada em Jornalismo Científico e Meio Ambiente. Fundadora e coordenadora do Movimento AMA. MIDIA ORGANICA. REAJA. RAMA. Colaboradora de diversas mídias especializadas em Jornalismo Ambiental.
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