Em seus 46 anos de existência o grupo se tornou um importante nome da cultura baiana e uma das mais importantes de Salvador, mantendo uma conexão com as gerações que vieram ao longo desses anos
Anderson Gomes
“Força e pudor, liberdade ao povo do Pelô”, são os primeiros versos de Protesto do Olodum, escrita por Tatau e lançada em 1988 como uma das faixas do álbum “Núbia Axum Etiópia”. Influenciada pelas notícias dos jornais da época, a música fala de temas envolvendo a expansão da AIDS no mundo, o Apartheid e a seca do nordeste. Logo, não foi preciso muito tempo para se tornar um dos maiores sucessos daquele que viria ser um dos grupos mais importantes nascido direto do coração de Salvador: o Olodum.
Fundado em 25 de abril de 1979 no Centro Histórico da cidade, o Olodum se firmou como um símbolo da cultura afro-brasileira. Sua música foi para além das ruas da capital baiana atravessando fronteiras e oceanos, conseguindo os olhares do mundo. Tombado pela ONU como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado da Bahia, o grupo percorre por esses seus 46 anos de existência, não apenas como uma das mais importantes manifestações da música mundial, mas como parte da cultura de uma cidade e de um povo.
Segundo Jorginho Rodrigues, presidente executivo do Olodum, o grupo tem um papel importante na construção da identidade de Salvador e que as suas músicas ajudaram a contar histórias importantes ligadas à “mãe África”.
“Os temas de carnaval e a criação do Samba-reggae, que trouxeram visibilidade mundial para o Olodum e para comunidade do Pelourinho, reforça a autoestima, a valorização e geram consciência da importância de ser negro/negra em nossa cidade”.
Jorginho ainda fala daquilo que ele denomina como “pilares importantes” para o Olodum. “A forma de se vestir, falar, pensar e questionar o papel da sociedade no combate ao racismo e a luta por igualdade, são pilares importantes da missão do Olodum ao longo desses anos, que ajudaram a construir essa identidade e remetem à luta dos nossos irmãos africanos por liberdade e um mundo sem qualquer tipo de discriminação e preconceito”.
O Olodum desde seu surgimento já conversava com os baianos, a batida dos tambores é a chave que firma essa conexão que pode envolver pessoas de qualquer idade, do mais jovem ao mais idoso, como aconteceu com Geraldo Marques, hoje Mestre da Escola Olodum, ele conta que sua mãe escutava em casa CD’s do grupo, encantado pelo som dos tambores ele começou a tocar nas panelas e aos 7 anos de idade ela o levou para a Escola Olodum.
“Carrego com orgulho a missão de formar novas gerações, transmitindo os saberes que recebi e que me formaram como artista e como cidadão. O Olodum é mais do que um grupo, é um movimento cultural, social e político que projetou Salvador para o mundo, levando o samba-reggae como símbolo de resistência e beleza da cultura afro-brasileira”, conta.
Geraldo ainda afirma que o Olodum é fundamental para Salvador porque valoriza as raízes africanas, a autoestima, gera oportunidades e mantém viva a força do “nosso povo através do tambor”.
O estudante de jornalismo da Facom-UFBA, Sandro Alex, 23 anos, nutre profunda admiração pelo Olodum. Conhece os maiores sucessos do grupo, já marcou presença em diversos shows e reconhece sua importância para além dos palcos. “Considero o Olodum importante, pois expressa a felicidade e a criatividade baiana, fazendo nosso estado ter reconhecimento mundial”, afirma.
Já para Enzo Gabriel, 15 anos, a relação com o grupo pulsa ainda mais próxima. Ele tocou no Olodum Mirim e encontrou na percussão um território de pertencimento e aprendizado. “O Olodum representa a luta, o orgulho e a arte do povo negro da Bahia, sendo um símbolo cultural e social que transformou Salvador”, declara, com a firmeza de quem vê no tambor um instrumento de identidade e transformação.