O que vem depois da tão sonhada aprovação no SISU? Um outro desdobramento da vida se inicia e nossa equipee foi atrás dos diversos olhares acerca desse caminho que centenas de jovens baianos decidem trilhar.
Por: Nauan Sacramento
As Universidades são o grande sonho da maioria dos jovens. O sentimento de passar nas provas, cursar o que deseja e ainda ter a sonhada vivência na faculdade é à menina dos olhos de muita gente, mas para alguns a estrada que permeia a chegada aos tão sonhados portões da academia é longa e com muitos mais quilômetros do que você imagina. A AGN foi atrás dessas histórias, de quem viajou muito chão para conquistar sua vaga na Universidade.
Assim como muitas cidades grandes e capitais, Salvador é citada como uma das localidades com maior atratividade para o ensino superior na Bahia e no Nordeste. Essa qualidade até então se deve à concentração de universidades públicas (como a UFBA e a UNEB – que, embora tenha campus no interior, tem sede e um grande polo na capital) e de grandes instituições privadas como UNIFACS, Baiana e Universidade Católica. Tal proeminência se reflete nos esforços para chegar na capital. Segundo estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já foi indicado que alunos de outros municípios baianos (e até de outros estados) percorrem longas distâncias (quase 100 km em média) para frequentar o ensino superior. Isso reforça o papel de Salvador como centro educacional.
Segundo a Agência de Notícias em matéria de 2018, a maioria das matrículas no ensino superior do estado da Bahia está em instituições privadas (cerca de 75,3% do total de matrículas em um levantamento de 2019/2020), o que inclui tanto a modalidade presencial quanto a EAD. O salto das matrículas em cursos a distância (EAD) foi significativo, impulsionado pela rede privada. Embora o ensino remoto possa reduzir a necessidade de migração, a demanda por cursos presenciais de maior prestígio (muitas vezes concentrados na capital) e a realidade de muitos cursos/áreas ainda atrai a migração.
Para Hebert Paiva, estudante do curso de Letras em Salvador e natural de Valença, a Universidade Federal da Bahia representa uma mudança de perspectiva “Eu vim de uma realidade muito restrita ao que tinha para fazer na cidade sabe, não que não tivesse faculdades onde eu morava, mas a UFBA é outro lugar de fala, vai além de prestígio claro, é sobre oportunidade.”
Em dados revelados da Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios Contínua (módulo de Educação), a Bahia apresenta uma taxa de jovens de 18 a 24 anos fora da universidade superior à média nacional (cerca de 85% em 2023), refletindo um desafio estrutural na educação básica e no acesso ao ensino superior no estado todo. O baixo índice de população com ensino superior completo no estado (apenas 11,9%) indica que a competição por vagas e a necessidade de deslocamento para centros com maior oferta (como Salvador) se tornam fatores importantes para quem consegue chegar ao ensino superior.
Conversamos com Francisco Ribeiro da Assistência Social da PROAE sobre questões que se relacionam com as dificuldades de acesso a todos os alunos de fora “Toda e qualquer iniciativa de assistência estudantil precisa de recursos, descentralização do R.U, aumento de residência universitárias; dependendo de recursos; mas invariavelmente ele vai passar por problemas.”
Em outras faculdades o cenário se repete. Mariana Dantas, sergipana e estudante de fonoaudiologia na UNEB conta sua experiência: “O maior problema eu acredito é que é muito complicado se manter na cidade. Salvador é uma cidade muito cara, se você não receber auxílio da faculdade ou não trabalhar e tiver só aqui, que é meu caso, você quase não tem chance de completar a graduação”.
Analisando dados fornecidos pela PROAE, em 2021, a UFBA registrou um total de 4.279 estudantes assistidos pelas bolsas e auxílios. Embora esse número não represente apenas estudantes do interior, ele é um forte indicador da necessidade de apoio àqueles que enfrentam dificuldades financeiras e de moradia na capital. Quase cinco anos depois, a discussão sobre a assistência dada pela faculdade é uma questão que afeta a comunidade universitária por completo.
Outra questão que aflige o estudante de fora é a adaptação a cidade. Salvador tem cerca de 692,818 km². Suas ruas, avenidas e bairros têm linguagem e costumes próprios. Como entrar nesse ecossistema é muitas vezes o que define sua experiência pelos próximos anos e até por toda sua estadia na cidade.
As atléticas, grupos, instâncias e ligas são os maiores chamarizes para esses jovens acharem redes de apoio aqui, explica Guilherme Castro da Liga de Fisioterapia Esportiva da Unijorge “Pra mim a liga foi muito importante, eu sou de Vitória da Conquista e ter gente pra dizer bora ali, vou te mostrar a cidade, etc. Foi essencial e é aqui que conheci essas pessoas. É pra quem tá chegando enfrentar mesmo, porque não tem muito pra onde correr depois que já tá aqui”
As redes de apoio criadas por alunos de qualquer tipo são portas de entrada para assegurar a permanência de jovens e adultos que buscam nas relações sociais a ponte para se firmar como residente da capital. Essas e as medidas de permanência nas instituições adotadas pelas próprias são o mais crucial para manter o estudante de fora na Universidade em Salvador.
Sobretudo ao ser perguntado como os funcionários da PROAE enxergavam a chegada de alunos de fora, a resposta foi esperançosa: “Vemos com bons olhos, uma estratégia de nacionalização de vagas. É interessante a entrada de estudantes de vários lugares do Brasil na UFBA”.