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Atualizado em 16 DE abril DE 2019 ás 16:37

Iniciativa visa diminuir diferenças de gênero nas Ciências Exatas

O exemplo da jovem engenheira elétrica e de ciência da computação, Katherine Bouman, é mais um reforço no incentivo de que mais meninas ingressem na carreira científica, sobretudo nas Ciências Exatas

POR THAINARA OLIVEIRA*
thzinara@gmail.com

A pesquisadora Katherine Bouman foi uma das integrantes do grupo de pesquisadores responsável pelo projeto Event Horizon Telescope (EHT), que divulgou a primeira imagem real de um buraco negro no último dia 10/04 (quarta-feira). Bouman foi quem desenvolveu um dos vários algoritmos usados no projeto, além de ser líder da equipe de testes de verificação das imagens. A representação da jovem cientista reforça a importância e possibilidade da presença feminina como protagonista, fazendo ciência e atuando nas áreas de tecnologia para o desenvolvimento científico mundial.

Katherine Bouman, 29, é formada em engenharia elétrica e ciência da computação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Sua pesquisa de aprendizagem de máquinas e os algoritmos disponibilizou aos astrônomos do projeto as informações que os radiotelescópios não eram capazes de captar no espaço. / Foto: divulgação.

Em 2017, um estudo feito pela revista Science questionou um grupo de meninos e meninas se para eles uma pessoa descrita como inteligente seria do seu sexo ou do oposto. Para as crianças na faixa dos 5 anos não foi notado diferenças, mas a partir dos 6 ou 7 anos a probabilidade de que meninas considerem a pessoa brilhante como sendo de seu sexo diminui. Outro levantamento relatou que as meninas mais velhas, a partir dos 6 anos, possuíam menos interesse em jogos cuja atribuição na descrição aparecesse como desenvolvidos para crianças muito inteligentes. O interesse não sofreu variação entre os gêneros quando o jogo era apresentado como destinado a crianças muito persistentes. Os autores do estudo chegaram à conclusão de que essas ideias a respeito de gênero e inteligência, que aparecem em uma fase inicial da infância, podem afastar as meninas das carreiras de Ciência e Engenharias.

imagem: Thainara Oliveira

Para modificar esse cenário, iniciativas importantes como o projeto Meninas na Ciência de Dados, foi viabilizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O projeto surgiu com o objetivo de ensinar para 500 garotas, da faixa etária dos 11 aos 15 anos, a interpretação de dados, coleta e avaliação de informações, baseado em análise estatística sobre a própria cidade e projetos de Ciência. Contando com inúmeras etapas, a maior parte da equipe é de voluntários, composta por professores e estudantes, desde a graduação até o doutorado das engenharias Elétrica, Civil, Química, Ambiental e dos Transportes da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, além de antropólogos e psicólogos.

Inicialmente são realizadas dinâmicas de aulas dentro das instituições de ensino e em seguida os alunos utilizam essas informações através do projeto, que terá um site voltado para discutir questões relacionadas a Salvador nas áreas da Saúde, Turismo, Transporte, Lazer, Ciência e Tecnologia. Além disso, todas as escolas irão levantar esses dados para, em conjunto, construir projetos para um evento científico, previsto para o final do ano, envolvendo ciência quantificada. De acordo com a professora e coordenadora do projeto, Karla Patrícia Oliveira Esquerre, “As crianças precisam escolher um projeto onde elas possam medir algo e avaliar dados em relação a ele”.

imagem: Thainara Oliveira

Durante o evento, realizado no último dia 12/04 (sexta-feira), 250 estudantes das cinco escolas participantes: Escola Municipal Cidade de Jequié e as Estaduais Evaristo da Veiga, Henriqueta Martins Catharino, Mário Costa Neto e Ypiranga, realizaram visitas aos laboratórios da Escola Politécnica, exposição de experimentos no hall e participaram doconcurso de desenho Como eu vejo Salvador. Além disso, puderam assistir a palestra da cientista de dados da International Business Machines (IBM) de São Francisco, Gabriela de Queiroz, que atua na construção softwares livres, além de fundadora da R-Ladies, uma comunidade internacional de formação em programação só para mulheres e pessoas queers, com atuação em 145 cidades de 45 países e reunindo 43 mil pessoas.

“Um dos objetivos do projeto é que as meninas se percebam como protagonistas na área da Ciência. Uma das primeiras perguntas que fazemos é ‘o que é um cientista para você?’, e para elas é sempre a imagem de um homem e, quando começamos a trabalhar e mostramos o exemplo da Gabriela, elas se reconheceram como cientista e mudaram essa percepção”, afirma Karla Esquerre.

Para a estudante do 6º ano do Colégio Estadual Mário Costa Neto, Isabela Conceição, conhecer coisas novas na Universidade, principalmente os laboratórios, foi o que mais achou legal. “Eu nunca me imaginei assim, fazendo Ciências. Eu gostei daquilo que o professor falou que quando você abre a porta, acende a luz e, quando você fecha, ela apaga”, contou a aluna rindo.

imagem: Thainara Oliveira

“Já fizemos lá na escola um experimento com um ventilador com pilha e movimento de mão. Não tive nenhuma dúvida porque eles explicaram muito bem e eu também pretendo fazer engenharia de controle e automação”, afirma a estudante da Escola Estadual Evaristo da Veiga, Ellen Bianca, 15.

Para a coordenadora da Escola Estadual Evaristo da Veiga, Alice Moraes, existem algumas dificuldades para colocar o aprendizado em prática nas escolas, onde, mesmo com chromebooks, a internet é ruim para utilizar nos vinte e cinco modelos disponibilizados na escola que atua pela Secretaria de Educação. “Precisamos ultrapassar os muros da escola, mas muitas vezes esbarramos na questão da logística”, diz a educadora.

imagem: Thainara Oliveira

A professora do Departamento de Engenharia de Transportes, Silvia Miranda, afirma que esse é um caminho para equiparar as oportunidades na universidade e o acesso ao mercado de trabalho. Principalmente para estudantes de colégios públicos, que quando pensam em entrar para as ‘Áreas de Exatas’ vêm a matemática como um grande impedimento e, no projeto, podem entender que não é bem assim.

Ela diz perceber que a UFBA está mais preparada oferecendo monitorias, acolhendo os estudantes da rede pública pela lei de cotas e incentivando trabalhos em grupo, o que facilita a integração. “Eu sou engenheira civil e quando me formei em uma turma de 50 alunos, só 5 eram mulheres, e essa é uma das engenharias que ainda vemos uma maior participação feminina, se comparado às outras engenharias. A Politécnica oferece mais de 10 engenharias para as meninas escolherem e nós temos que exercitar a liderança e interdisciplinaridade que é tão importante no mercado”, ressalta Miranda.

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

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