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Atualizado em 11 DE dezembro DE 2025 ás 12:07

Crônicas do Fim do Mundo: A Crise do RU de Ondina e o Impacto nos Estudantes da UFBA

O retorno do quadro “Crônicas do Fim do Mundo” traz o retrato atual da infraestrutura da UFBA em tempo de cortes e crise.

Merlia

O RU foi o instrumento criado pela movimentação e reivindicação estudantil na década de 60, sendo uma conquista coletiva. No entanto, no dia 27 de novembro de 2025, estudantes da UFBA não puderam se alimentar no Restaurante Universitário de Ondina devido a danos ao teto por conta dos temporais.

Com a interdição deste restaurante, a UFBA notificou que os bolsistas não seriam punidos pela falta de comparecimento e coube aos estudantes se deslocarem a outro campus para fazerem sua refeição. Não houve um planejamento para comportar essas demandas, já que o RU de Ondina é o maior de todos, podendo servir 7 mil alunos por dia, e o restante dos pontos de outros polos serve somente 3 mil, que são divididos entre si, segundo nota publicada no site da UFBA.

Alunos relatam que o comunicado a respeito da suspensão dos almoços foi escasso, feito de forma ineficiente pelos canais de veiculação da UFBA. Estudante do segundo semestre do BI de Humanidades, Hanna Souza conta que ficou sabendo de maneira informal a respeito da situação. “Foi mal avisado que o RU de Ondina ia fechar para reforma, a gente só ficou sabendo porque o moço que fica na portaria do RU falou: ‘Olha, a partir de amanhã o RU vai fechar e só volta dia 2.’” Terminando sua fala, ela conta que essa foi a única via de informação que chegou até ela. “E aí a gente falou: ‘Poxa, muito obrigado por avisar, senão amanhã eu ia chegar aqui e ia dar de cara na porta.’”

No dia fatídico, alunos que foram a outros polos do RU se depararam com o fim das fichas e da comida, ficando em situação de insegurança alimentar em meio ao semestre. As aulas percorrem naturalmente e os estudantes precisam improvisar o que fazer diante desse cenário. Foi o caso de Tainá Pereira, que come no RU de Ondina assiduamente. “Foi uma surpresa porque, assim, eu tinha visto um anúncio, mas fiquei confusa com o jeito que eles passaram a informação de que o RU ia ficar com a capacidade menor. Só que depois, no dia, a gente descobriu que não ia ter. Aí eu fui com um amigo almoçar aqui na cantina da FACOM, só que assim, a gente gastou para almoçar uma vez o que almoçava e jantava a semana toda.”

Não é a primeira vez, já que é importante ressaltar que o cotidiano da UFBA foi afetado pela insegurança do teto desabar anteriormente. Em outubro deste ano, as aulas foram suspensas no Departamento III da Faculdade de Educação da UFBA após o teto cair. O motivo é o mesmo: fortes chuvas.

Esse histórico de adiamento de reparos é uma realidade que a universidade federal vive, mas, em um ano de cortes e contenção de gastos, as decisões administrativas afetaram diretamente o bem-estar da comunidade estudantil. Darley Silvano, bolsista da PROAE e estudante de Produção Cultural, conta como o adiamento de reparos e consertos dentro do espaço universitário — principalmente o restaurante — deixou o ambiente vulnerável até se tornar insustentável.

“É uma situação premeditada, realmente, que isso em algum momento fosse acontecer. Porque, como eu falei anteriormente, já vinha ocorrendo, o teto já vinha dando sinais que em algum momento ele iria ceder. Então, foi algo premeditado. Então, situações que poderiam ter sido resolvidas anteriormente, não foram.”

Em relação ao orçamento destinado à universidade, em 2024, o valor de corte em relação à UFBA foi de 13 milhões, e, apesar de não ser divulgado o valor de manutenção predial, as despesas de conservação e revisão da universidade foram diretamente afetadas, consequentemente aprofundando a crise estrutural. Novamente, este ano, em abril, a UFBA comunicou que recebeu 4/12 do orçamento de custeio, referentes ao período de janeiro a abril, afirmando que a situação a respeito de novos custeios seria normalizada a partir de maio.

O ano de 2025, para além de danos estudantis, também causou descontentamento da administração da UFBA quanto à ocupação da universidade federal. Com o mesmo número de pessoas que o RU de Ondina consegue servir em um dia, calouradas foram o foco de duras críticas e posicionamento da gestão atual da universidade.

Assim, se percebe uma diferença na reação a problemas ligados ao campus e ao que acontece dentro dele, principalmente relacionado à imagem da UFBA. Isso se mostra na rapidez com que os alunos da universidade foram punidos por problemas vinculados a “barulho” e conflitos na festa “Paredão da Facom”, que aconteceu no dia 19 de setembro, resultando na decisão de suspensão de festas universitárias dentro do campus, sem abertura para debate.

A falta de comunicação parece fluir bem mais que um erro ocasional ao se analisar duas situações que abrangem gravidades distintas e comportamentos desproporcionais. Primeiramente, pela devolutiva dada por um espaço que tem sua estrutura danificada, a ponto de causar perigo no espaço acadêmico. Em oposição, um evento indesejado pela imagem dos paredões dentro do campus e suas implicações aos cargos de liderança dentro da universidade federal. É o contraste entre contenção e punição.

O cenário é de direitos estudantis relacionados à alimentação e ao direito de ocupação da universidade sendo ameaçados. Porém, a educação sempre vai ser um âmbito de disputa, e, ao ver a repetição de estruturas cedendo em universidades públicas, vemos um padrão de abandono.

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