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Atualizado em 16 DE maio DE 2011 ás 03:01

Ouvido biônico possibilita audição a deficientes

No Brasil, cerca de 500 deficientes auditivos receberam o implante, já disponível pelo SUS em outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Norte. Na Bahia, o serviço só passou a ser oferecido em 2009 no Hospital Santo Antônio, em Salvador

Por Cláudio Bandeira
cafbandeira@gmail.com

“Há seis anos enfrento meu atroz estado, agravado por médicos sem competência, ludibriado ano após ano na esperança de melhora e enfim constrangido perante uma doença crônica, cuja cura exigirá talvez anos, se não, em verdade, seja ela impossível”, escreveu angustiado Ludwig van Beethoven, genial mestre da música ocidental que começou a perder gradativamente a audição pouco antes dos 30 anos, perto do final do Século 18. O drama descrito pelo compositor em uma das inúmeras cartas que escreveu sobre a doença até a sua morte resume a condição que milhares de pessoas enfrentam em todo o mundo.

Para elas, a surdez tem sido, ao longo dos séculos, um entrave para o crescimento individual, já que a audição é um importante sentido de integração social. Há três séculos, Beethoven não encontrou a almejada cura, mas a ciência não tem poupado esforços para desenvolver formas de superar o problema.

O recente avanço é a chamada cirurgia de implante do ouvido biônico, a técnica mais bem-sucedida já desenvolvida para devolver a audição a pacientes pré-linguais (aqueles que ainda não aprenderam a falar) – crianças de até 3 anos – e pós-linguais – crianças e adultos que já dominam o falar. A técnica consiste no implante de um dispositivo eletrônico diretamente na cóclea de forma a estimular diretamente o nervo auditivo e é indicada nos casos em que os aparelhos de amplificação sonora individuais não apresentam o efeito almejado.

Em todo o mundo, existem atualmente 60 mil usuários do equipamento implantado na cóclea. No Brasil, cerca de 500 deficientes auditivos receberam o implante. Embora já esteja disponível pelo SUS em outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Norte, na Bahia, o serviço só passou a ser oferecido a partir de 2009 no Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Salvador.

O implante coclear é composto de duas partes principais: um componente (feixe de eletrodos), cirurgicamente implantado, é posicionado dentro da cóclea e um outro externo tem a função de captar os sons do ambiente e codificá-los em sinais elétricos a serem enviados diretamente ao nervo auditivo, explica o cirurgião – chefe do serviço de implantes cocleares, Rosauro Aguiar.

Ouvido interno – A cóclea (ver infografia) está situada no ouvido interno. Tem a estrutura em forma de caracol que contém inúmeros células capilares e um fluido, a endolinfa, responsáveis pela audição. As células capilares têm a função de captar as vibrações na endolinfa e enviá-las ao nervo auditivo. A cóclea possui ainda uma estrutura chamada de canal semicircular que é o sensor de equilíbrio dinâmico do corpo.

Cerca de 20 a 30 dias após a cirurgia, o equipamento implantado é ativado e colocado um outro equipamento externo que faz a captação do som, transforma esse som em ondas de radiofrequência. Rosauro Aguiar explica que a habilidade de aprender a linguagem é significativa até o terceiro ano de vida, quando, então, começa a decair. Quando passa dos cinco a seis anos, a habilidade não é a mesma e já se encontra uma série de dificuldades no desenvolvimento da fala. “Se uma criança de 2 anos receber o implante, ela tem a possibilidade de passar a falar corretamente o idioma. Na hipótese de ela ter 7 anos, terá os benefícios do implante, mas não a mesma habilidade na linguagem de uma criança que fez o implante abaixo dos 3 anos”. Para a médica Adriana Silveira, a realização do implante representa uma possibilidade de inclusão social: “É uma iniciativa que garante aos beneficiados uma melhor qualidade de vida, além de maiores chances de superação das limitações que a deficiência auditiva pode trazer quando não é tratada adequadamente”, afirma.

“Desde que fiz a cirurgia e passei a ouvir, iniciei uma vida nova”

Ana Paula Pinheiro é uma das pacientes beneficiadas com o implante do ouvido biônico. Sua história mescla anos de angústia em busca da cura e a alegria de tê-la, finalmente, encontrado. No final do ano de 2003, ela perdeu a audição. “Foi de repente, sem motivo aparente. Primeiro do ouvido esquerdo e depois do direito”, revela. Ana Paula iniciou uma peregrinação a muitos médicos e realizou vários exames. Mudou-se para Salvador, em 2005, para iniciar o tratamento quando teve diagnosticada a perda total do ouvido esquerdo e parcial do direito. “Fui recomendada pelo Cepred (Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação de Deficiências) a fazer o implante fora da Bahia, já que aqui não havia a cirurgia pelo SUS. Felizmente surgiu o serviço em Irmã Dulce”. Ana foi operada em fevereiro de 2009 e teve o equipamento acionado em março. “Graças a Deus, eu ouvi de repente assim que foi ativado. Comecei a ouvir pelo ouvido esquerdo, que era perda total. Foi uma vida nova, independência, muita coisa mudou”.

Ana Paula conta que o aparelho se tornou imprescindível: “Tenho uma filha de 15 anos, a perda prejudicou a comunicação com ela. Fiquei desempregada . Agora as coisas vão ser diferentes”.

Recomeço - Tatiana Silvestre Lima também festeja os benefícios da cirurgia depois de ver os progresso do filho Henrique Augusto Silvestre, 3 anos. “Ele não ouvia nada desde que nasceu; não reagia aos sons. Agora escuta tudo”, conta. A mãe relata que, pouco mais de dois meses depois do procedimento, o garoto iniciou o aprendizado da linguagem. “Aprendeu agora ‘pa’. Tudo agora virou ‘pa’. Antes falava tudo emboladinho. O nome dele, já atende. Quando digo que não, ele olha desconfiado. Estou muito feliz”, comemora. Tatiana descobriu a cirurgia por intermédio de fonoaudióloga do Cepred que lhe falou sobre a cirurgia. “Henrique chegou a usar o aparelho auditivo normal e não teve resultado nenhum”.

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4 comentários para Ouvido biônico possibilita audição a deficientes

  1. eduardo davi de oliveira disse:

    hoje descobri que posso fazer uma cirurgia em meu filho eduardo e que essa cirurgia pode fazer com que ele ouça melhor.por isso estou muito feliz,mesmo sabendo que e uma cirurgia muito cara e que eu nao posso pagar,mas que posso por ele na fila do sus.obrigada meu nome e sebastiana de oliveira de monte carmelo minas gerais.

  2. ana carla disse:

    Olá, minha mãe teve um tipo de minigite aos 5 anos, hoje ela tem 42 anos. Passaram-se 37 anos, ela fala algumas coisas como água, café, Ana, entre outras palavras mais simples. Ela usa o aparelho auditivo, porém não consegue ouvi. Gostaría de saber se ela pode fazer essa cirurgia, que é sua única esperança. Aguardo resposta.
    Ana Carla Pitanga

  3. Elizaldo Caetano de Oliveira disse:

    Eu tenho 40 anos, sou músico e vi minha vida acabar qdo comecei a perder a audição pelo uso excessi-vo de AMICACINA no HEOM. Hj eu sonho com essa cirurgia desde q vi a reportagem do FANTÁSTICO, mas só agora chegou à BAHIA. Como faço para me enquadrar no sistema para fazer a cirurgia?

  4. jociene Lima da Conceição disse:

    CONHECI uma pessoa bem próxima a minha família que se encontra na idade de 53 anos, nasceu MUDO e SURDO. Recorreram a varios medicos e nao consiguiram diagnosticar a causa dessa deficiência e a possibilidade de recuperar a sua audição e fala.
    SOLICITO AJUDA E MAIS INFORMAÇÕES sobre essa deficiencia pois fiquei muito comovida com a situçaõ.

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