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Atualizado em 20 DE abril DE 2013 ás 14:45

Fé, penitência e esperança

"O sertanejo é assim, quanto mais desafio, mais fé e resignação para suportar a labuta da vida", destaca a jornalista.

POR LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com

Geronildes dos Anjos é mulher de fé e católica praticante, daquelas que faz promessa para subir montanhas íngremes, como as colinas cheia de pedras da Serra da Santa Cruz, em Monte Santo. Como pessoa de fé ela reza o terço nos diversos oratórios do caminho de peregrinação, da base até a cume, na Igreja principal. Geronildes subiu a montanha, no dia 02 de Fevereiro, por volta das 9:30 da manhã, com apenas uma garrafinha d’água, e só desceu por volta das 14 horas, sob sol escaldante. Rezou, cantou, pediu e agradeceu a Deus pela vida, para chover, para saúde de sua mãe, doente de cama, e para conseguir trabalho e tranquilidade na família. Assim como Geronildes, diversos membros da família, como Wilson, Denise e outros, sobem a Serra do Monte Santo. O sertanejo é assim, quanto mais desafio de vida, quanto mais dor e sofrimento, mais fé e resignação para suportar, com dignidade e resiliência, a labuta da vida.

Serra em Monte Santo (BA): Fé e penitência. Foto: Movimento AMA

Serra da Santa Cruz, em Monte Santo (BA); peregrinos em fé e penitência. Foto: Peixinho.

Apelos a Deus!

“Minha mãe está de cama há muitos anos! A gente só descobriu a doença quando ela tinha 70 anos, agora tem 84, e o sofrimento de nossa mãe bole com toda a família, porque ela tem muita dificuldade de se mexer”, diz Geronildes, que tenta conciliar o tempo do trabalho com a divisão das tarefas entre a família para cuidar da doença da mãe, dona Bebé. Ela deixou a casa onde morou mais de 70 anos, em Bebedouro, para ir morar em outra cidade, cerca de 300 quilômetros de distancia, por causa da de condições no local de fazer o acompanhamento da doença, que precisa de transfusão de sangue semanal. Dona Bebé agora mora em Senhor do Bonfim, distante mais de 5 horas de viagem de sua terra natal. Mas, teve que viajar durante anos, de Senhor do Bonfim, para Juazeiro, cerca de 100 quilômetros de distancia, para ir fazer transfusão de sangue.

Seria impossível dona Bebé fazer a viagem, toda semana, morando no Bebedouro,  por causa das estradas poeirentas e cheias do que o povo chama de  “costelas de vacas” (ondulações pequenas de terra dura) que provocam trepidação em veículo, causando muito incômodo aos passageiros. Os filhos de dona Bebé, como Jaime, Wilson e André Moraes, ficam muito tristes quando a mãe implora para eles levá-la de volta para roça e precisam dizer não, para poupar a saúde da paciente, muito fragilizada. Dona Bebé esteve nas orações dos filhos, lá na colinas sagradas da Serra de Monte Santo.

Chegada na Serra de Monte Santo. Foto: Liliana Peixinho.

Chegada na Serra do Monte Santo. Foto: Peixinho.

Desafios históricos

Os problemas do povo das cidades próximas a Serra de Monte Santo, como Euclides da Cunha, Cansanção, Quinjigue, Itiúba e muitas outras, de outros estados, mobilizam centenas de pessoas para orações na Serra, todo o tempo. Os penitentes movimentam cidade, como fruto do novo turismo religioso.

Nas redondezas da região, vemos a caatinga sumindo, os pastos, aumentando, o perigo de assaltos nas estradas mais frequentes, e pessoas morrendo, precocemente. Com a seca, cemitérios de animais de formaram nas beiras das estradas. O desafio é sensibilizar coletivos de articulações formados por políticos, empresários e médios criadores, para reverter caminhos insustentáveis, que tem  levado as pessoas ao desespero. E os santos sagrados são acionados mais com  pedidos, que agradecimentos.

Monte Santo: Descida da Serra da Fé. Foto: Liliana Peixinho.

Monte Santo: Descida da Serra da Santa Cruz, após os agradecimentos de graças alcançadas . Foto: Peixinho.

Cadeias informativas de valor

O modelo histórico de economia predatória vem de patrão para empregado, de avó pra neto, de geração a geração. E aqueles que tentam, com resistência, fé e consciência, ir no sentido contrário, com bom senso, e cuidado com a vida, precisa labutar muito porque o que o sobra em coragem para trabalhar e colher pouco, ou quase nada, falta em estrutura, que vai desde a falta d’água para a molhação, até a burocracia, que dificulta o acesso ao crédito

Informações investigativas, traduzidas em linguagem simples e de valor construtor de interação harmoniosa comunitária, de compromisso com a preservação de recursos naturais, para a promoção da autosustentação local e cidadania, continua como desafio em pautas que pouco interesse parece despertar na mídia, de forma geral.

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* Liliana Peixinho é jornalista, especialista em  Jornalismo Científico e Tecnológico, com atuação em Mídia, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Ativista socioambiental, fundadora dos Movimentos Amigos do Meio Ambiente (AMA) e Rede de Articulação e Mobilização Ambiental (RAMA).

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