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Atualizado em 31 DE maio DE 2012 ás 18:29

Dosagem adequada de materiais permite aperfeiçoar cisternas do semiárido

O projeto do professor Paulo Roberto Lopes Lima da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) avaliou os métodos de construção das cisternas nas localidades de Serrinha e Retirolância e propôs o aprimoramento desses reservatórios de água a partir do uso proporcional de cimento, areia e água.

POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com

O uso das tecnologias para armazenamento de água há muito vem sendo uma das maneiras mais convenientes para a sobrevivência das populações no semiárido. A medida mais comum é a construção de cisternas – reservatórios cilíndricos cobertos e parcialmente enterrados, que captam e armazenam água da chuva. O acompanhamento da construção de algumas dessas reservas, por professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), contudo, alertou para o aprimoramento das cisternas de placas devido à reincidência de vazamentos e rachaduras.

Paulo Roberto Lopes Lima, professor do Departamento de Tecnologia da UEFS e idealizador do projeto de avaliação e aprimoramento das cisternas, verificou que os métodos de construção das placas feitas de argamassa não garantiam a durabilidade dessas reservas no subsolo. As placas resultam da mistura de cimento com areia e água. Mas, para que seja adequada para a cisterna, a proporção dos materiais que as compõem deve ser levada em conta. Segundo o pesquisador, muita água era adicionada à mistura, e isso enfraquecia a massa.

Construção da cisterna de placas. Crédito: ASA

O estudo foi desenvolvido em habitações rurais de municípios próximos a Feira de Santana, como Reitirolândia e Serrinha.  “Esse aprimoramento se tornou necessário porque a cisterna é a principal forma de armazenamento de água da chuva – única disponível nesses locais”, enfatiza Paulo Roberto Lopes.  Em seu projeto, contemplado em um edital de 2007 da Fapesb, o pesquisador também constatou que a pouca resistência das placas de argamassa resultava em fissuras durante o próprio manuseio, o que elevava o custo da cisterna pela perda de materiais, e comprometia a água reservada para o consumo humano.

As primeiras cisternas do Nordeste foram construídas há mais de 40 anos e a técnica de fabricação rudimentar se mantém praticamente a mesma. “A proporção [dos materiais] era o grande problema”, pontua o pesquisador. Paulo Roberto Lopes reconhece a importância social desses reservatórios no semiárido, por que permitem o escoamento de água da chuva através de calhas, mas segundo ele, todo o processo de desenvolvimento e a capacitação dos cisterneiros têm sido feitos por pessoas sem formação técnica.

Etapas do Projeto

A avaliação e aprimoramento das cisternas de placas foram desenvolvidos em quatro etapas. A primeira delas identificou e caracterizou os materiais utilizados na construção das placas, através do monitoramento de uma cisterna no povoado de Lagoa do Curralinhos – Serrinha. Nesse momento, também foi realizada uma oficina com pedreiros de toda a região Nordeste e do estado de Minas Gerais em Feira de Santana para que os problemas na construção dessas reservas aquíferas fossem apresentados.

Durante a segunda etapa, corpos de prova em forma de cilindro foram moldados para avaliação da argamassa. As amostras foram coletadas para testar a resistência das placas à flexão. O propósito também era adequá-las a norma NBR 12142/91 que prescreve o método para determinar a resistência do concreto à tração. Na terceira parte, o projeto propôs uma modelagem computacional das cisternas e a quarta etapa, realizada em laboratório, resultou numa dosagem ideal dos materiais.

Resultados

“Depois que nós fizemos as primeiras avaliações, já com os primeiros resultados, essas técnicas foram passadas para os cisterneiros que as tem implementado com sucesso”, explica Paulo Roberto Lopes. O aproveitamento da argamassa após seu ressecamento também foi avaliado, já que mais água era adicionada para torná-la moldável, o que também enfraquecia a mistura. Os estudos concluíram que o uso do molde de madeira para despejo desse material, por outro lado, resultava na perda de água, assim como a exposição ao sol implicava na evaporação.

O traço 1:5:0,7 (cimento, areia: relação água-cimento) apresenta resistência satisfatória para a produção de placas, principalmente do ponto de vista econômico de acordo com Lopes. O uso da lona foi outra vantagem para a garantia da qualidade das cisternas. Ao serem moldadas sobre esse material plástico, as placas de argamassa apresentaram um aumento de 23%, assim como a sua resistência. O pesquisador, que lembra da ação do governo para a construção de cisternas no semiárido, finaliza: “A ideia é construir 1 milhão de cisternas, mas que possam ter qualidade”.

Contra as cisternas de plástico

Para acelerar a iniciativa do Programa Água para Todos que, dentre outras propostas, prevê a construção de 1 milhão de cisternas de placas no semiárido, o governo propôs que as 300 mil que faltam fossem construídas com polietileno. A Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) que é uma rede composta por cerca de 750 organizações da sociedade civil atuantes na região semiárida é contra a iniciativa. Segundo a instância, as cisternas de placas podem ser construídas e reparadas pelos cisterneiros, enquanto que as de plástico os deixam à mercê de outras equipes quando consertos forem necessários.

“A cisterna de plástico é uma solução antiecológica – quando se fala em redução do consumo de combustíveis fósseis – e simplista para a sociedade”, acredita Paulo Roberto Lopes da UEFS. “Seria melhor investir na formação técnica dos pedreiros, trazendo qualidade para as cisternas, assim como desenvolvimento para a região semi-árida”, completa o pesquisador.

*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom/Ufba e bolsista da Agência Ciência e Cultura.

2 comentários para Dosagem adequada de materiais permite aperfeiçoar cisternas do semiárido

  1. Ricardo disse:

    Realmente, a questão no aperfeiçoamento no uso dos materiais que são utilizados na construção das cisternas devem ser revistos, pois só aqui na região ,Planalto – Bahia, a reclamação dos problemas com vazamentos dessas cisternas de alvenaria são inúmeras, pois possuo uma loja de material de construção, e sempre estou vendendo material para o conserto de tais cisternas, temos que fazer valer o dinheiro que é doado a esse povo sofrido em forma de cisterna, dessa forma seria muito melhor as cisternas de plástico.

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