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Atualizado em 22 DE dezembro DE 2011 ás 17:48

Ferramentas inovam no estudo do Mal de Parkinson

Ufba, empresa Brunian e Fapesb viabilizam o Multideglutógrafo e o ParkiGlove. Registro de patentes já foi solicitado

POR RAIMUNDO DE SANTANA
raimundodesantana@gmail.com

O tripé estabelecido entre a Universidade Federal da Bahia (Ufba), uma empresa privada e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) possibilitou a construção do Multideglutógrafo (MDG) e do ParkiGlove (PG), dois produtos inovadores cuja função pode contribuir para o avanço na compreensão e tratamento do Mal de Parkinson (MP), e assim melhorar a qualidade de vida dos pacientes. As duas empreitadas tecnológicas, inclusive, foram premiadas em 1º lugar no Prêmio Ideias Inovadoras Categoria Mestrado nos anos de 2009 e 2010, em editais da Fundação. Os dois pedidos de registro de patentes estão em curso.

Guardadas as devidas proporções, a conjugação de esforços em muito faz lembrar a hélice tríplice formulada por Henry Etzkowitz, diretor do Instituto de Política Científica, da Universidade do Estado de Nova Iorque. Mais do que uma proposta, Etzkowitz advoga um modelo de inovação com base na relação governo-universidade-indústria. No caso da Bahia, a pesquisa, os investimentos e a viabilidade de levar esses dois produtos ao mercado estão sendo orquestrados por esses três atores.

Crônica, degenerativa e ainda sem cura, mas com tratamento, a enfermidade foi identificada no século XIX. Apresenta, entre outras características, rigidez muscular, distúrbios na deglutição, tremores involuntários e lentidão de locomoção. Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) assegura que o Mal de Parkinson acomete cerca 3% da população mundial com mais de 65 anos de idade.

Contudo, uma preocupação central que mobiliza estudiosos da doença em todo o mundo parte de um raciocínio relativamente simples: à medida que a parcela da população velha vai crescendo, a consequência direta é que o número de parkinsonianos também vai aumentar. Resultado: esse quadro de ampliação de pacientes em escala mundial exigirá, sobretudo, – além de crescentes aportes de recursos para pesquisa, atendimento e tratamento – arrojadas iniciativas no âmbito das políticas públicas no enfrentamento do parkinsonismo.

INFECÇÃO RESPIRATÓRIA – É na complicação do ato de deglutir alimentos, sejam eles líquidos, sólidos ou pastosos, que se concentra uma atenção especial da Divisão de Neurologia e Epidemiologia (Dinep), vinculada ao Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Bahia-Ufba, grupo de pesquisa multidisciplinar, que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. E essa atenção não é à toa. Isso porque a complicação na deglutição dos parkinsonianos é a principal causa de internamentos por conta de infecção respiratória. E mais: é esse tipo de infecção, na maioria dos casos, a principal causa de morte desses pacientes.

“Conforme apontam pesquisas, pessoas com problemas de Parkinson e de deglutição têm um risco 10 vezes maior de serem internadas devido à pneumonia, do que aqueles que não têm problemas de deglutição”, destaca o pesquisador Ailton de Souza Melo, coordenador da Dinep. “Mas o fato concreto é que todos terão problemas de deglutição. Já os pacientes com Parkinson e com problemas de respiração têm o risco quatro vezes maior de morrer do que aqueles que não têm problemas desse tipo”, assegura Melo, que também é professor do Programa de Pós-graduação Medicina e Saúde (PPMgS) da Fameb-Ufba .

Melo: 'Pessoas com Parkinson e deglutição estão 10 vezes mais propícias a internação por pneumonia'

É exatamente na questão da deglutição dos parkinsonianos – a chamada aspiração traquial de saliva e alimento – que o Multideglutógrafo traz possibilidades animadoras de diagnósticos e até de tratamento num futuro próximo. O MDG é um equipamento que visa à produção de dados e outras informações importantes diretamente relacionados a diversos aspectos das alterações no processo de deglutição e respiração do paciente. Todos esses resultados são demonstrados através de gráficos e números, a partir de um software, e são exibidos em uma tela de computador. O Multideglutógrafo (MDG) está em fase de testes.

O Multideglutógrafo (MDG) está em fase de testes

‘ASPIRAÇÃO SILENCIOSA’ – A também pesquisadora da Dinep, que está orientando estudos experimentais a partir de um protótipo do MDG, a fonoaudióloga e professora do PPMgS, Ana Caline Nóbrega, lembra que o primeiro grande desafio é reduzir e até evitar essas mortes decorrentes das infecções respiratórias. Para ela, a questão crucial que se coloca para os pesquisadores da Dinep diz respeito ao diagnóstico e tratamento das complicações na deglutição desses pacientes, a chamada “aspiração silenciosa”.

“O MDG é uma grande promessa. Ainda estamos em uma etapa inicial e os experimentos são bem-animadores. Ele não vem substituir o que já existe no campo do diagnóstico dessas complicações. Além de não usar radiação e não ser invasivo, o equipamento pode ser uma ferramenta fundamental na identificação de indivíduos portadores de MP com alteração na deglutição”, exemplifica Ana Caline.

A anamnese (as entrevistas cara a cara entre o médico e o paciente) e o exame instrumental através da videofluorocopia – considerado padrão ouro pelos pesquisadores – estão entre os principais modos de investigação de problemas na deglutição dos parkinsonianos. No primeiro há a possiblidade grande de imprecisão ou subjetivismo, a partir da verbalização do paciente; já o segundo, além de invasivo e desconfortável, oferece dados objetivos a partir da visualização de imagem em tempo real (tipo radiografia, mas só que em movimento). Entretanto, o aparelho de videofluroscopia é caro, sua instalação exige uma sala ampla e específica e pessoal especializado para operá-lo.

Do ponto de vista do raciocínio clínico no campo da fonoaudiologia, por exemplo, o MDG oferece quatro importantes parâmetros quantitativos: a duração da deglutição (fase oral e faringe); a coordenação entre a respiração e a deglutição; capta os sons da deglutição e os transformam em sinais gráficos para posterior análise; e o movimento da laringe (na deglutição, o órgão faz movimentos para cima e para baixo). São referenciais, portanto, revolucionários que inauguram um novo cenário no campo da compreensão da doença e consequentemente no enfrentamento dos óbitos.

Um dos idealizadores do promissor equipamento, o engenheiro mecatrônico, e recentemente graduado em Medicina, Daniel Almeida, explica entusiasmado: “A vantagem do MDG, diferentemente da videofluorocopia, é que é um equipamento de custo baixo, eficaz, portátil (vai ao paciente acamado) e é preciso na avaliação dos parâmetros funcionais do processo de deglutição/aspiração dos doentes de Parkinson”. Almeida ressalta que o artefato está passando por aperfeiçoamentos e adequações para que qualquer profissional da área de saúde, devidamente treinado, possa manipular o equipamento.

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Um comentário a Ferramentas inovam no estudo do Mal de Parkinson

  1. Josafá Santos Brasil disse:

    Fico satisfeito em saber que na UFBA estão desenvolvendo estudos desse nível na área do Mal de Parkinson. Acho que devia haver mais difulgação. Até agora a minha fonte de informações nessas áreas se limitavam ao GOOGLE.

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