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Atualizado em 11 DE maio DE 2015 ás 22:12

A (des)inserção dos rios nos contextos urbanos

Pesquisador explica como os impactos da urbanização prejudicam os rios e provocam a ipermeabilização do solo e alagamentos urbanos. A discussão aconteceu no Ciclo de Palestras: Meio Ambiente, Energia, Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia

LAÍS MATOS*
lais.matos.rosario@gmail.com

Meio Ambiente, Inovação e Cidade foi o tema da palestra de abertura do Ciclo de palestras Meio Ambiente, Energia, Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, mediada pela professora Patrícia Borja. Na discussão contou com a participação dos professores Lafayette Luz , Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da UFBA; e  Andréa Ventura, da Unijorge e pesquisadora integrante do Núcleo de Política e Administração em Ciência e Tecnologia (NACIT/UFBA).

O objetivo do ciclo, segundo a professora do IHAC/UFBA, Ana Lúcia Lage, que realizou a abertura do evento, é atrair alunos interessados no tema e aprofundar a discussão que não deve ser apenas teórico-acadêmica, pois trata de questões que afetam profundamente a cidade no contexto social local. “Ao formar cientistas, a formação não é puramente técnica. É preciso pensar nos impactos, aplicações e consequências do que se pesquisa, é preciso pensar na divulgação científica”, afirma.

Com o tema “A (des)inserção dos rios nos contextos urbanos”, o professor Luz afirmou que são nos rios que configuraram o processo de formação das primeiras ocupações urbanas, que deveriam ser próximas às fontes de água e discutiu o cenário dos rios de Salvador, que estão gradativamente desaparecendo. O pesquisador explicou que a maior parte dos rios de Salvador não são considerados rios, as pessoas chamam de esgoto.

O processo de urbanização leva a uma série de transformações na estrutura da cidade e uma das consequências é a ipermeabilização dos terrenos, onde as ruas viraram shopping centers entre quatro paredes, por esse motivo, a água não tem para onde ir quando chove, provocando inundações. Os alagamentos são ainda mais destrutivos quando associados à ocupação desordenada, ao lixo e à erosão das encostas, como acontece em Salvador, onde o caos se instaura quando chove em grande quantidade. “A mesma chuva intensa que no passado causava um impacto moderado, hoje gera verdadeiras catástrofes”, esclarece Luz.

Dessa  forma, a melhor medida para atenuar os impactos citados é recuperar os rios, tornar seu ambiente agradável para convívio com a população. O professor ressalta ainda a importância da construção de praças, áreas verdes e espaços abertos, que promovam uma vida melhor e com mais saúde nas cidades, “É preciso pensar a cidade como um ecossistema onde os humanos fazem parte”. Luz apresenta as experiências mundiais bem sucedidas de reconcepção das cidades e explica porque no Brasil as iniciativas interessantes costumam não dar certo: “Muitas vezes os projetos de recuperação dos rios trazem propostas de reubarnização do ambiente, mas voltadas para o interesse imobiliário e especulativo, ignorando a reinserção adequada do rio no contexto urbano”, critica.

Professor Lafayette Luz é PhD em Engenharia Ambiental

Professor Lafayette Luz é PhD em Engenharia Ambiental

De acordo com o pesquisador, em Salvador, os projetos de recuperação dos rios são grandes problemas e demonstram a incapacidade das gestões municipais, que tentam solucioná-los tapando os canais. Sendo assim, “podemos perceber diversos exemplos de obras superfaturadas que apenas esconderam o problema embaixo do tapete. Um dos casos aconteceu com o Rio dos Seixos, na Avenida Centenário. A obra consistiu em tapar gradativamente o canal e construir um espaço de convívio para a população. A obra custou 28 milhões e o rio não pode mais ser visto. No entanto, as pessoas ficaram satisfeitas com a aparente revitalização do lugar. O mesmo aconteceu com o Rio das Pedras no Imbuí, em uma obra que, ao final, custou 56.874 milhões”, critica Luz . Para ele a intenção dos gestores na realização dessas obras, “que custam mais do que o necessário” é levar a população a acreditar que o problema foi resolvido.

O professor apresenta também vários casos em que foi feita a recuperação efetiva dos rios, como em Belo Horizonte, com a implementação do programa de despoluição ambiental, DRENURBS, promovido pelo município e com a proposta de despoluir os cursos de água, reduzir os riscos de inundação e integrar os recursos hídricos à paisagem urbana, evitando as tradicionais canalizações. Além disso o professor mostrou o valor das obras que custaram em média 10 milhões, considerando as demandas de cada região.

O manejo das águas urbanas depende de ações afirmativas e políticas de uso sustentável da água. Luz destaca a importância de dar aos rios a oportunidade de desenvolver sua própria dinâmica, onde a população possa fazer parte. “É preciso mudar a concepção antiga e trabalhar nos paradigmas da ecohidrologia, ou seja, analisar os mecanismos hidrológicos dentro da lógica ecológica”, defende. E conclui sugerindo uma transformação da engenharia tradicional para uma de pretensão ecológica, disposta a propor intervenções de baixo impacto e soluções sustentáveis.

Sobre o Ciclo de Palestras - O evento tem a proposta de reunir pesquisadores da Bahia e Brasil ligados aos estudos de clima, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, com o objetivo de ampliar a divulgação e percepção da importância das questões contemporâneas em torno das mudanças climáticas e da busca pelo desenvolvimento mais justo e sustentável, a partir de uma abordagem sócio-ecológica e transdisciplinar.

O resultado que se pretende é a reflexão crítica sobre tais questões, suas implicações ético-políticas e seus impactos nos contextos global e local/regional/nacional.

Os próximos encontros acontecem no dia 28 de maio, Mudanças Climáticas e Fronteiras Planetárias; dia 2 de junho, Alternativas sustentáveis; e no dia 18 de junho, Impactos ambientais regionais. As discussões acontecerão no Pavilhão de Aulas do Campus de Ondina, das 18:30 – 21:30. Para mais informações e programação completa do evento acesse aqui.

*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA

Um comentário a A (des)inserção dos rios nos contextos urbanos

  1. Juliano Lacerda disse:

    Obrigado, sua palestra está incrivelmente detalhada e bem organizada, me ajudou muito. Obrigado mesmo.

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